Daqui para frente, garantem os palacianos, Dilma sempre que puder, usará a palavra — e ela passa uma grande segurança na voz — para tentar mostrar que “estamos todos bem”. Ocorre que, num país onde a maioria desconhece a obra de Camões, talvez o Velho do Restelo não seja a melhor linguagem para debelar o pessimismo. Sarney não conseguiu. Tampouco Fernando Henrique.
A diferença é que nenhum dos dois à época era candidato à reeleição. Dilma o é. E, vestida de vermelho, usa a imagem do Velho do Restelo numa linguagem mais simples, dizendo que os arautos da inflação em alta são os mesmos que, no início do ano, mencionavam o risco de apagão e racionamento de energia, o que não ocorreu. Ou seja, adota assim, a postura de quem tem crédito para ser ouvida.
Mais efeito que a palavra, entretanto, é a ação e os recursos de que dispõe para se sobrepor aos adversários nessa longa temporada pré-eleitoral. A presidente tem o púlpito palaciano, as inaugurações, as motoniveladoras, os ônibus escolares e toda a gama de obras e utensílios que o governo federal distribui pelo país afora. Maior efeito terá ainda a medida anunciada ontem, de assegurar uma casa mobiliada e com eletrodomésticos para os beneficiados pelo programa Minha Casa, Minha Vida, dentro do novo “casa melhor”.
Os efeitos desses programas serão sentidos daqui a alguns meses, entre o fim da Copa das Confederações e o início da Copa do Mundo, quando o país começará a viver um pouco mais as eleições.
Enquanto isso, na oposição...
Para alegria e alívio do governo e da presidente-candidata, seus opositores não têm nem o mesmo espaço, nem as mesmas ferramentas para chegar ao eleitor. Até aqui, a única ferramenta que permitiu a presença de Aécio Neves e de Eduardo Campos de forma mais massiva foi o programa partidário de cada um no rádio e na tevê. Marina Silva nem isso. E, ainda assim, ambos apresentaram alguns pontinhos a mais quando foram expostos. Eduardo, 6%, e Aécio, 14%. Já é alguma coisa para quem não tinha tanto espaço quanto a presidente.
Na avaliação dos oposicionistas, o jogo só ficará um pouco mais equilibrado no período eleitoral. Até lá, é reforçar a guerrilha no Congresso, obstruindo votações, puxando a análise dos vetos.
E no PMDB...
Para sorte de Dilma, entretanto, o presidente do Senado, Renan Calheiros, por quatro vezes desmarcou as sessões convocadas para avaliar os vetos. Renan sabe que é preciso critérios para analisar os vetos, até porque a maioria deles compromete o tênue equilíbrio fiscal. Sabe ainda que, enquanto tiver esse instrumento nas mãos, pode sempre obrigar o PT a rever palanques estaduais, tornando mais equilibrada a relação entre os partidos. É por aí que os peemedebistas vão jogar. Farão, inclusive, uma comissão no partido para tratar exclusivamente desses palanques com a cúpula petista. Afinal, se isso não for resolvido logo, a aliança fica comprometida na convenção, como já foi dito em várias reportagens ao longo dos últimos dias.
Se a situação dos palanques não for equacionada até o fim do ano, talvez Dilma veja engrossar a voz oposicionista no Congresso, onde a situação não é nada confortável. Aí sim, talvez ela tenha mais gente para jogar na classificação de “Velho do Restelo”. Por enquanto, essa denominação é restrita aos oposicionistas. Se esse bloco vai aumentar, depende da economia e o tratamento dispensado aos aliados.
Por falar em aliados...
Há quem jure ter ouvido de Eduardo Campos que ele já admite ficar até o fim do governo ou concorrer ao Senado. No governo federal, entretanto, ele é tratado como a candidato a presidente que já passou do ponto de retorno. Entre os petistas, há quem diga que ele lançou a figura do “governador itinerante” de Pernambuco.
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