A preocupação do mercado e do governo com a inflação, que está operando no teto da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%, conforme a variação em 12 meses no dado de maio do IPCA, é legítima e correta. Entretanto, não haverá mudança no quadro de pressões sobre os preços domésticos se não houver efetiva mudança das políticas macroeconômicas expansionistas correntemente praticadas. Não é possível debelar a inflação com pacotes e estímulos recorrentes ao consumo público e privado.
O governo lançou ontem um novo pacote de estímulos ao consumo de móveis e eletrodomésticos, o Minha Casa Melhor, que prevê R$ 18,7 bilhões para financiar a compra desses bens pelos beneficiários do Minha Casa, Minha Vida. Os recursos fiscais para que a Caixa possa emprestar o dinheiro aos consumidores virão do Tesouro Nacional, com capitalização de R$ 8 bilhões (sendo R$ 3 bilhões referentes ao programa).
A medida soma-se à série de ações que o governo tem tomado para ampliar os estímulos à demanda agregada, incluindo as novas emissões de dívida pública para BNDES, Valec e Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) - para cobrir o rombo do cálculo mal feito da redução das contas de luz. Na prática, em um momento em que o governo tenta fazer crer que está mais preocupado com a combinação de políticas macroeconômicas e, em particular, com a condução da política fiscal, trata-se de um "banho de água fria" em quem alimentava algum otimismo em relação à política fiscal.
De um lado, o ministro Guido Mantega insiste que fará 2,3% do PIB de esforço primário. De outro, aumentam-se os gastos, a dívida pública e as pressões sobre a inflação. Não se combate aumento dos preços com estímulo à demanda, mas, sim, com "o pé no freio". Não há - a julgar pelas características das políticas que o governo continua adotando - disposição e preparo para promover a necessária reversão no eixo fiscal.
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