O Estado de S.Paulo - 13/06
Ontem circularam informações de que o governo Dilma está disposto a corrigir sua rota em direção a mais responsabilidade fiscal para ajudar a derrubar a inflação. Se for na linha do que foi anunciado ontem, ou seja, de financiamentos de R$ 18,7 bilhões em recursos públicos a juros subsidiados para a compra de sofás e de máquinas de lavar, então essas boas intenções não devem ser levadas a sério. É mais despesa para mais consumo e menos investimento.
O estouro do teto da meta de inflação em meados de 2013 era fato anunciado há meses. Não pode ter sido inesperado para o governo, como as autoridades têm sugerido. Surpresa foi a reação da sociedade, de grande apreensão e cobradora de ação.
Entre as prioridades da atual administração, nunca esteve entregar a inflação na meta. A ideia era de que, derrubados os juros, estimulado o crédito, garantidos o emprego, o aumento de renda e o consumo, o brasileiro toleraria eventual lambança da inflação.
As coisas não funcionaram assim e, agora, a disparada dos preços se encarrega de corroer a renda do consumidor. Como as adversidades não chegam sozinhas, a inflação sobrevém num momento em que o PIB segue em marcha excessivamente lenta, as contas públicas estão em franca deterioração, o balanço de pagamentos acusa graves avarias preocupantes e o mercado externo de capitais está em maré vazante.
Se nos níveis de 6,5% em 12 meses a inflação já provoca estragos políticos, imagine-se o que pode acontecer nos próximos meses, quando o índice se aproximará perigosamente dos 7%.
É só fazer as contas. Se em junho se confirmar uma evolução do IPCA de 0,32%, como esperada pelo mercado, conforme a Pesquisa Focus do Banco Central, o avanço dos preços em 12 meses atingirá 6,76%. Dificilmente em julho ficará abaixo dos 6,60%. E, se a esticada das cotações do dólar no câmbio interno continuar puxando para cima os preços em reais dos produtos importados, é possível que em agosto a dose se repita.
Além de culparem a crise internacional pelas mazelas da economia, as autoridades da Fazenda até agora vinham repetindo que o refluxo da inflação era questão de tempo e que aconteceria espontaneamente, sem empenho da administração. Repetiam, também, que a alta dos alimentos seria revertida quando as boas safras agrícolas chegassem ao varejo e com a relativa estabilidade das cotações das commodities no mercado internacional. No mais, o governo trataria de acelerar novas concessões, sempre adiadas, de portos, aeroportos, ferrovias, rodovias e petróleo, providência que puxaria os investimentos e daria a sensação de que o governo não estaria parado.
Foram até aqui a aposta e a receita que acabaram desmoralizadas pelos fatos. A única maneira de virar esse jogo é providenciar um choque fiscal. Seria um pacote de decisões de credibilidade que se encarregassem de reequilibrar as contas públicas, hoje a caminho da desordem.
Os sinais emitidos ontem são em sentido contrário, como dito acima. O risco é de que as novas juras de austeridade não passem de recurso para comprar tempo até as eleições. Se a deterioração dos fundamentos da economia não for atacada com credibilidade, os mercados não esperarão, se anteciparão aos fatos. São reações que tendem a desencadear forças ainda mais desestabilizadoras.
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