O GLOBO - 13/06
Encontra-se à vista de todos o esgotamento do ciclo da tentativa de se impulsionar a economia de forma sustentada, por meio do consumo, com salários crescendo acima da produtividade e gastos públicos em custeio sem rédeas. Também está claro que a política de criação de “campeões nacionais”, com dinheiro público subsidiado transferido para os cofres do BNDES por meio de endividamento do Tesouro, não tem futuro. Era sabido, do mesmo jeito.
Em abril, o presidente do banco, Luciano Coutinho, afirmou ao jornal “O Estado de S. Paulo” que a instituição abandonara a política porque era limitado o número de setores na economia brasileira com potencial para permitir o surgimento de grandes grupos nas incubadeiras do Estado. Nada além de petroquímica, celulose, frigoríficos, siderurgia, suco de laranja e cimento.
É uma forma de ver as coisas. A outra, com base em números, como os publicados no início da semana pelo GLOBO, é que os maus resultados de algumas apostas em “campeões” já afetam a operação do próprio banco.
Como muito dinheiro foi empatado em algumas poucas empresas cujas ações estão em baixa e a rentabilidade, idem, o banco fica desprovido de uma fonte importante de recursos. O BNDESPar, braço de participações acionárias da instituição, respondia por pelo menos 40% do lucro do banco. Mas, no ano passado, não contribuiu com mais do que 3,7%.
Quem acompanhou a última tentativa de o Estado cevar empresas nacionais com a concessão de pesados subsídios, no governo militar de Ernesto Geisel, sabia que mais esta demonstração de dirigismo estatista teria o mesmo destino.
Toda vez que a burocracia estatal, em qualquer país, resolve substituir o mercado e decide ela mesma “planificar” o desenvolvimento, o resultado são enormes prejuízos a serem socializados, cedo ou tarde.
Mais atenta que a nossa, a elite dirigente chinesa, em fase de renovação, com Xi Jinping recém-empossado presidente, já anuncia que o próximo passo da segunda maior economia do mundo são desregulações e a abertura de mais espaço para a iniciativa privada, muito mais eficaz que o planejador estatal na alocação dos recursos disponíveis. Os novos dirigentes chineses têm feito declarações inaceitáveis para algumas facções do PT.
Não se pode, óbvio, menosprezar a importância do BNDES, única fonte de financiamento de longo prazo no país — uma questão a ser equacionada quando a inflação voltar a níveis civilizados. Mas, em vez de ele continuar prisioneiro de uma visão autárquica da indústria brasileira, deveria ser o centro de um plano estratégico para atrelar segmentos do parque fabril nacional a linhas globais de suprimento em ramos de grande densidade tecnológica, sem protecionismo e outros artificialismos. Ir contra esta realidade é perder tempo e dinheiro do
contribuinte. E tornar realidade os temores cepalinos de que o Brasil venha a ser apenas um grande fornecedor de commodities.
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