O Estado de S.Paulo - 19/05
"Tá tudo muito fácil, mas ao mesmo tão difícil, viu? A frase que pode parecer vaga, mas que traz boa dose de precisão descritiva (já explico), saiu na semana passada da boca de uma jovem amiga. Ela se referia às sucessivas impossibilidades que vem enfrentando em sua vida amorosa. Tentativa após tentativa, ela anda com a sensação de que, ao mesmo tempo em que as pessoas estão a poucos toques de distância das teclas de um computador ou da tela de um smartphone, elas andam longe, muito longe de dar uma chance para o afeto ou para um mínimo de intimidade.
Como tantos outros jovens, ela tem conhecido cada vez mais vezes parceiros, "ficantes" e namorados em potencial nas redes sociais. É muito tentador receber mensagens, cutucadas, pedidos de "me adiciona?" e outras versões modernas das antigas cantadas. Mas, se é muito fácil mandar e receber esses sinais, até que ponto se pode acreditar no que eles têm de autêntico? Tudo fica parecendo sempre parte de um mesmo roteiro, em que a única mudança é o nome do personagem que será envolvido na história.
Outro dia, ela recebeu uma mensagem privada no seu Facebook. Um garoto que ela conheceu em uma festa, anos atrás, convidava para um café, porque estava com saudades. Como tinha gostado do garoto desde a primeira vez, mas na ocasião ele ainda namorava, ela se surpreendeu com a mensagem vinda do "além". Marcaram, saíram, ficaram, ela se envolveu e, em duas semanas, ele mandou mensagem para dizer que ainda não estava pronto para voltar a ter nada sério com ninguém. Até aí, nenhuma novidade! Isso poderia ter acontecido em qualquer relacionamento, iniciado online ou não. O que talvez seja diferente é a facilidade e a velocidade com que as pessoas hoje podem entrar em contato com quase desconhecidos ou completos estranhos.
As redes sociais agregaram rapidamente inúmeros "amigos" na vida das pessoas. Amigos têm amigos, que têm amigos e por aí vai. Não é preciso muito esforço ou habilidade para encontrar e seguir alguém que pode parecer interessante. Daí para "se adicionar", trocar mensagens e marcar é um processo que pode ser muito rápido. Muitas vezes, desconfio, nem dá tempo para se pensar o que, de fato, se pretende com aquele encontro.
Também parece existir uma sensação comum de impessoalidade: "do mesmo jeito que ele mandou mensagem para mim, poderia ou poderá mandar para qualquer outra". Parece tudo um pouco aleatório mesmo! Um acha o perfil, manda o recado e o outro aceita. Simples assim! Como garantir um pouco de exclusividade? Como saber que aquele encontro tem chance de se tornar mais pessoal, mais afetivo?
Mesmo nos relacionamentos que nascem na internet e "vingam", muitas vezes há esse temor, tensão e desconfiança permanentes no ar. E se ele receber uma mensagem de alguém? E se ele resolver "paquerar" pela rede?
É lógico que o jeito de se conhecer pessoas e de se manter contatos mudaria com a onipresença da vida online. O jovem de hoje passa cada vez mais tempo "plugado". Ele conversa, estuda, pesquisa, vê TV, lê notícias e acha parceiros na rede. Só que alguns códigos e padrões da vida na internet parecem ser um pouco complicados de traduzir e adaptar para a vida real, aquela do olho no olho, mão na mão e beijo na boca.
Do mesmo jeito que se pula de janela em janela e se pode ter uma atenção flutuante na rede, sem precisar focar em um único objeto por muito tempo, essa geração de jovens nativos digitais parece estar trocando de amor, de parceiro ou de interesse com uma facilidade tremenda. Mas essa banalização do outro, do "tanto faz quem eu vou adicionar hoje", está deixando muita gente bem aborrecida pelo meio do caminho. Sempre online, mas indisponível para tudo e para todos, pode ser um status, no fundo, muito solitário.
Longe de ser contra as relações que nascem na rede e, sabendo que a vida digital pode sim facilitar e agilizar encontros, fico só pensando que um pouco mais de especificidade, de afeto e de desejo real de conhecer um ao outro fazem uma diferença tremenda!
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