NOVA YORK. O eleitor liberal desta cidade, uma das mais liberais dos Estados Unidos, anda cabisbaixo. Se abrir seu exemplar do "New York Times" vai ficar ainda mais acabrunhado. O próprio jornalão centenário deve estar se perguntando quando vai acabar o esfarelamento público da presidência Barack Obama.
Há muito tempo não se viam tantas questões controversas em erupção numa mesma semana, todas envolvendo algum braço do governo federal. Não bastasse a denúncia do uso do Imposto de Renda como ferramenta política contra grupos direitistas, houve os mais de 100 grampos a jornalistas da agência de notícias Associated Press autorizados pelo Departamento de Justiça. E voltou à tona com força inesperada o caso da manipulação de informações, pela CIA e pelo Departamento de Estado, de um atentado terrorista ocorrido em 2012 contra o consulado americano em Benghazi, na Líbia.
Os três episódios têm gravidade, motivação política e consequências institucionais bastante diversas. Mas conseguiram o que era impensável até duas semanas atrás: aproximar o cidadão democrata do republicano na indignação com os rumos do atual governo. Para o eleitor de Obama o momento é de desalento ao constatar que a credibilidade do presidente encolheu, que sua competência como líder está em dúvida e que seu capital político parece ter virado pó. Para os adversários de Obama o momento político é tão alvissareiro que o único cuidado está em não se mostrar sôfrego demais no regozijo. Quando a ultradireita iguala o despiste atual sobre o atentado em Benghazi ao caso Watergate que derrubou o presidente Richard Nixon em 1974, ou quando ela começa a desenterrar a palavra "impeachment", os republicanos mais veteranos sabem que é hora de frear.
É no ataque terrorista do 11 de Setembro de 2001 que se situa o marco zero de todo este solavanco político. Desde então, a segurança nacional tornou-se um instrumento de mil e uma utilidades políticas. Tome-se como exemplo o caso do atentado em Benghazi. Para os republicanos, o governo abriu uma brecha indesculpável na segurança nacional ao omitir que fora um ato de terroristas islâmicos. Já para a agência de inteligência americana (CIA), principal responsável pela omissão, foi o contrário - resguardou-se a segurança nacional ao preservar algumas linhas de investigação futuras. Também a justificativa para grampear telefones privados e profissionais de jornalistas ancorou-se em interpretações elásticas da segurança da população americana.
Já se passaram quase doze anos desde que o mundo viu as Torres Gêmeas serem tragadas no solo de Nova York. Desde então, parecer tímido em relação à defesa interna do país é anátema a ser americano. Qualquer cochilo adquire proporções de gravidade nacional, e o recente atentado em Boston praticado por dois irmãos originários do Cáucaso reforçou o sentimento. Só que a blindagem perfeita não existe, sobretudo num regime democrático. Em contrapartida, o excesso de zelo, com conflitos entre departamentos e agências, abunda. Segundo dados divulgados pela CNN, perto de 720 mil nomes constariam da lista de suspeitos direta ou indiretamente vinculados a terrorismo, elaborada pelos vários serviços de inteligência dos Estados Unidos.
Paralelamente, existe um programa federal de delação premiada, o Witness Security Program, ou Witsec, que fornece identidade e vida nova a detidos que cooperam com informa-ções sobre terrorismo. O Marshal's Service, agência policial subordinada ao Departamento de Justiça, tem sob sua responsabilidade monitorar essas pessoas após sua soltura. Soube-se esta semana que pelo menos dois beneficiários do programa simplesmente sumiram. Pior, podem ter saído do país em voos comerciais, sem qualquer problema, munidos dos novos documentos legais. Isso porque o Departamento de Justiça não autoriza o repasse das novas identidades desses eventuais ex-terroristas ao Centro de Triagem que atualiza a lista de quem deve ser barrado em aeroportos e portos. Isso para citar apenas uma questiúncula no cipoal cheio de excessos e furos do Homeland Security.
Dias atrás, foi instalada no topo da primeira torre erguida na área em que ficavam as Torres Gêmeas um mastro de aço galvanizado de 124 metros de altura. Somando-se os 18 gomos do mastro aos 104 andares do reluzente arranha-céu a ser inaugurado em menos de um ano, a nova torre medirá exatamente 1.776 pés (541 metros), em homenagem ao ano da independência dos Estados Unidos. Será, então, a edificação humana mais alta do Ocidente. Isto se o Council of Tall Buildings and Urban Habitats, entidade privada com sede em Chicago que atua como árbitro mundial na catalogação de arranha-céus, assim decidir.
No projeto original, o mastro vinha envolto numa redoma multifacetada de aço e fibra de vidro e integrava de forma clara o conjunto arquitetônico. Já na versão atual, o mastro é um espigão sem enfeites (porém US$ 20 milhões mais econômico) e por isso corre o risco de ser considerado mera antena. Se assim for, sua altura não será computada. O veredicto será anunciado em 2014.
Nova York e os Estados Unidos não precisam ter o arranha-céu mais alto do Ocidente para mostrarem sua grandeza. O superlativo indispensável para a viabilidade comercial do empreendimento o prédio já tem: "O mais sólido da história da engenharia civil." Construído para resistir ao impacto de um jato comercial, ele foi erguido sobre um pedestal de 20 andares como proteção a um eventual atentado com caminhões-bomba. Custou 4 bilhões de dólares. A torre que inicialmente se chamaria Torre da Liberdade foi rebatizada sem alarde de "One World Trade Center" (ou 1 WTC). Melhor assim, em se tratando de prédio comercial. Angústia, dor, vazio, reflexão verdadeira têm a acolhida que merecem no impactante Memorial às Vítimas. Ali, duas piscinas monumentais de mármore preto, escavadas nos exatos locais antes ocupados pelas Torres Gêmeas, desaguam em cascatas de nove metros para um vazio central. Só isso, ininterruptamente. Os nomes das quase três mil vítimas estão gravados em bronze em volta das duas piscinas. Fora isso não tem mais nada, só carvalhos brancos. Ali a palavra "liberdade" faz mais sentido.
Há muito tempo não se viam tantas questões controversas em erupção numa mesma semana, todas envolvendo algum braço do governo federal. Não bastasse a denúncia do uso do Imposto de Renda como ferramenta política contra grupos direitistas, houve os mais de 100 grampos a jornalistas da agência de notícias Associated Press autorizados pelo Departamento de Justiça. E voltou à tona com força inesperada o caso da manipulação de informações, pela CIA e pelo Departamento de Estado, de um atentado terrorista ocorrido em 2012 contra o consulado americano em Benghazi, na Líbia.
Os três episódios têm gravidade, motivação política e consequências institucionais bastante diversas. Mas conseguiram o que era impensável até duas semanas atrás: aproximar o cidadão democrata do republicano na indignação com os rumos do atual governo. Para o eleitor de Obama o momento é de desalento ao constatar que a credibilidade do presidente encolheu, que sua competência como líder está em dúvida e que seu capital político parece ter virado pó. Para os adversários de Obama o momento político é tão alvissareiro que o único cuidado está em não se mostrar sôfrego demais no regozijo. Quando a ultradireita iguala o despiste atual sobre o atentado em Benghazi ao caso Watergate que derrubou o presidente Richard Nixon em 1974, ou quando ela começa a desenterrar a palavra "impeachment", os republicanos mais veteranos sabem que é hora de frear.
É no ataque terrorista do 11 de Setembro de 2001 que se situa o marco zero de todo este solavanco político. Desde então, a segurança nacional tornou-se um instrumento de mil e uma utilidades políticas. Tome-se como exemplo o caso do atentado em Benghazi. Para os republicanos, o governo abriu uma brecha indesculpável na segurança nacional ao omitir que fora um ato de terroristas islâmicos. Já para a agência de inteligência americana (CIA), principal responsável pela omissão, foi o contrário - resguardou-se a segurança nacional ao preservar algumas linhas de investigação futuras. Também a justificativa para grampear telefones privados e profissionais de jornalistas ancorou-se em interpretações elásticas da segurança da população americana.
Já se passaram quase doze anos desde que o mundo viu as Torres Gêmeas serem tragadas no solo de Nova York. Desde então, parecer tímido em relação à defesa interna do país é anátema a ser americano. Qualquer cochilo adquire proporções de gravidade nacional, e o recente atentado em Boston praticado por dois irmãos originários do Cáucaso reforçou o sentimento. Só que a blindagem perfeita não existe, sobretudo num regime democrático. Em contrapartida, o excesso de zelo, com conflitos entre departamentos e agências, abunda. Segundo dados divulgados pela CNN, perto de 720 mil nomes constariam da lista de suspeitos direta ou indiretamente vinculados a terrorismo, elaborada pelos vários serviços de inteligência dos Estados Unidos.
Paralelamente, existe um programa federal de delação premiada, o Witness Security Program, ou Witsec, que fornece identidade e vida nova a detidos que cooperam com informa-ções sobre terrorismo. O Marshal's Service, agência policial subordinada ao Departamento de Justiça, tem sob sua responsabilidade monitorar essas pessoas após sua soltura. Soube-se esta semana que pelo menos dois beneficiários do programa simplesmente sumiram. Pior, podem ter saído do país em voos comerciais, sem qualquer problema, munidos dos novos documentos legais. Isso porque o Departamento de Justiça não autoriza o repasse das novas identidades desses eventuais ex-terroristas ao Centro de Triagem que atualiza a lista de quem deve ser barrado em aeroportos e portos. Isso para citar apenas uma questiúncula no cipoal cheio de excessos e furos do Homeland Security.
Dias atrás, foi instalada no topo da primeira torre erguida na área em que ficavam as Torres Gêmeas um mastro de aço galvanizado de 124 metros de altura. Somando-se os 18 gomos do mastro aos 104 andares do reluzente arranha-céu a ser inaugurado em menos de um ano, a nova torre medirá exatamente 1.776 pés (541 metros), em homenagem ao ano da independência dos Estados Unidos. Será, então, a edificação humana mais alta do Ocidente. Isto se o Council of Tall Buildings and Urban Habitats, entidade privada com sede em Chicago que atua como árbitro mundial na catalogação de arranha-céus, assim decidir.
No projeto original, o mastro vinha envolto numa redoma multifacetada de aço e fibra de vidro e integrava de forma clara o conjunto arquitetônico. Já na versão atual, o mastro é um espigão sem enfeites (porém US$ 20 milhões mais econômico) e por isso corre o risco de ser considerado mera antena. Se assim for, sua altura não será computada. O veredicto será anunciado em 2014.
Nova York e os Estados Unidos não precisam ter o arranha-céu mais alto do Ocidente para mostrarem sua grandeza. O superlativo indispensável para a viabilidade comercial do empreendimento o prédio já tem: "O mais sólido da história da engenharia civil." Construído para resistir ao impacto de um jato comercial, ele foi erguido sobre um pedestal de 20 andares como proteção a um eventual atentado com caminhões-bomba. Custou 4 bilhões de dólares. A torre que inicialmente se chamaria Torre da Liberdade foi rebatizada sem alarde de "One World Trade Center" (ou 1 WTC). Melhor assim, em se tratando de prédio comercial. Angústia, dor, vazio, reflexão verdadeira têm a acolhida que merecem no impactante Memorial às Vítimas. Ali, duas piscinas monumentais de mármore preto, escavadas nos exatos locais antes ocupados pelas Torres Gêmeas, desaguam em cascatas de nove metros para um vazio central. Só isso, ininterruptamente. Os nomes das quase três mil vítimas estão gravados em bronze em volta das duas piscinas. Fora isso não tem mais nada, só carvalhos brancos. Ali a palavra "liberdade" faz mais sentido.
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