domingo, maio 19, 2013

Radiografia da piora - SAMUEL PESSÔA

FOLHA DE SP - 19/05

Os indicadores externos sugerem que não é por falta de demanda que a economia não cresce


Houve ao longo de 2012 piora apreciável no deficit de transações correntes. São contabilizados nas transações correntes os resultados da balança comercial, de serviços e de rendas.

A balança comercial consolida o pagamento entre residentes e não residentes da exportação e importação de mercadorias.

A balança de serviços consolida o pagamento entre residentes e não residentes da exportação e importação de serviços, tais como fretes, viagens internacionais, seguros, aluguel de equipamento, pagamentos de licenças e royalties etc.

O terceiro componente das transações correntes, a balança de rendas, contabiliza os pagamentos aos não residentes no Brasil de seus investimentos no país e/ou de seu trabalho no Brasil, e aos residentes no país de seus investimentos no estrangeiro e/ou de seu trabalho no exterior. Ou seja, a balança de renda consolida os pagamentos de juros, lucros, dividendos e salários lá e cá.

É possível mostrar que o deficit de transações correntes é igual ao excesso do investimento doméstico sobre a poupança nacional. Ou seja, o deficit de transações correntes é a poupança externa que o país absorve para contribuir com o financiamento do investimento.

O Brasil, país de renda média para baixa e relativamente pobre em capital, é tradicionalmente um recebedor de poupança externa. Com exceção de alguns períodos, apresentamos balança de transações correntes deficitária.

O gráfico acima apresenta o saldo da balança de transações correntes de 1947 a 2012 em proporção do PIB. Note que normalmente o saldo é negativo, isto é, apresenta um deficit. Assinalei quatro momentos ligados a crises de balanço de pagamentos que tivemos no período.

Em 1960, com deficit de 3% do PIB no ano seguinte ao rompimento do governo JK com o FMI; em 74, no deficit de 6,8% do PIB após o choque do petróleo; em 82, com o deficit de 6% do PIB no ano em que tivemos que recorrer ao FMI; e em 99, com deficit de 4,3% do PIB em seguida à ida do país ao FMI.

Após estabilizar-se em torno de 2% do PIB de 2010 até 2012, em março de 2013 ante março de 2012 o déficit elevou-se de 2,05% para 2,93%, ou seja, elevação de 0,88 ponto percentual do PIB.

Houve, portanto, uma deterioração do deficit de transações correntes de quase um ponto percentual do PIB na virada de 2012 para 2013.

A má notícia é que essa piora ocorreu em um período em que houve forte desaceleração da economia e no qual o crescimento do investimento foi negativo. Mesmo a recuperação do investimento que houve até o momento não compensa toda a redução de 2012.

A radiografia do período entre março de 2012 e março de 2013, na posição acumulada em 12 meses, aponta que três quartos da elevação do deficit deveram-se à piora da balança comercial, e um quarto, à piora da balança de serviços.

A balança de renda não se alterou. Da piora da balança comercial, 57% deveram-se à queda das exportações, e 43%, à elevação das importações. Da piora da balança de serviços, 51% deveram-se à piora na conta de aluguel de máquinas e equipamentos, e 39%, à piora na conta de viagens internacionais.

Ou seja, os indicadores externos sugerem que não é por falta de demanda que a economia não cresce.

A demanda vaza para fora de todas as formas --menos exportação, mais importação e piora em serviços-- por dificuldades de nossa oferta em competir com a oferta externa. O problema é de baixa produtividade, e não de falta de demanda.

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