Nunca tantos analistas erraram tanto em uma previsão quanto na da produção industrial de março. Agora, todos estão de volta aos modelos para reduzir a projeção de crescimento do PIB, para o trimestre e para o ano. Nilson Teixeira, do Credit Suisse, disse que há falta de bons indicadores antecedentes. Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco, disse que amanhã divulgará novas previsões para o PIB.
Alguns índices são mais estáveis, e outros passaram por mudanças metodológicas. Mas a produção industrial, explica o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, faz parte do primeiro grupo, dos indicadores mais sólidos.
- Houve muito incentivo e desincentivo do governo aos setores, e ficou a dúvida sobre como cada um iria reagir. Tenho a impressão que muitos acharam que a indústria reagiria mais favoravelmente e em prazo mais curto aos estímulos. A agricultura todos sabem que terá um número positivo comparado ao fraco indicador do ano passado. O setor de serviços é mais difícil de fazer previsão. Todos achavam que seria fácil calcular a indústria, mas em março o número surpreendeu - disse o economista.
Ilan Goldfajn disse que o crescimento brasileiro não está muito disseminado, está concentrado em alguns setores, o que faz com que qualquer evento modifique a tendência.
- O país cresce pouco e concentrado. Tem uma fraqueza no crescimento. Tudo é pontual. Na alta do primeiro trimestre, 0,5% é agricultura - disse ele.
Nilson disse que os modelos que os bancos e consultorias seguem são parecidos, e, por isso, tantas instituições superestimaram o resultado da produção industrial. Tanto Itaú quando Credit Suisse estavam em 1,3% e deu 0,7%. O Bradesco acreditava em 1,7%.
- Há falta de indicadores antecedentes na indústria. Só automóveis, papel ondulado, consumo de energia, pedágio. Não tem muito mais que isso. Mas o que está surpreendendo é a rápida queda da confiança do empresário nos últimos dois meses - disse Nilson Teixeira.
O Credit Suisse tinha feito a previsão mais forte de crescimento do PIB para o ano, 4%. Ele disse que só revisará em junho. A maioria das instituições já está revendo para baixo tanto o PIB do primeiro trimestre quanto o do ano.
A surpresa no dado da produção industrial provocou mudanças imediatas no Boletim Focus, que reúne as projeções do mercado. Há uma semana, a mediana era de um crescimento de 2,83% da indústria em 2013. Ontem, caiu para 2,39%.
A economia enfrenta, ao mesmo tempo, uma deterioração fiscal, um desequilíbrio crescente nas contas externas, e a inflação está acima do teto da meta. Amanhã sairá o número do IPCA e deve ficar próximo de 0,46% e 0,47%, segundo o professor Luiz Roberto Cunha. Isso reduzirá a inflação em 12 meses, porque no ano passado, em abril, foi 0,64%. Fará com que ela volte a ficar dentro do intervalo de flutuação, ou seja, abaixo de 6,5%. Em maio, o dado mensal ficará mais baixo. Junho é a grande incógnita da inflação, e no ano passado foi de apenas 0,08%.
Em resumo, a economia está passando por várias dificuldades, mas na inflação haverá uma pequena melhora, pelo menos no curto prazo. Já no PIB, o ritmo de crescimento tem se reduzido. Nas contas externas os problemas se desdobram em várias más notícias: o aumento do déficit comercial da indústria, do setor de petróleo e derivados, o risco de ter déficit este ano, a queda das exportações de manufaturados para a Argentina, cuja situação econômica está se complicando, o déficit do turismo, que triplicou em três anos, a saída de uma situação de equilíbrio nas contas correntes para um rombo de quase US$ 70 bilhões. O ano está com vários desafios à frente.
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