ESTADÃO - 07/05
O mundo dá novamente sinais de desaceleração econômica. E os bancos centrais voltaram à carga. Nada muito diferente do roteiro padrão desde a crise de 2008. Mais estímulos estão sendo despejados nas economias desenvolvidas, desde a enorme expansão monetária realizada pelo Banco Central do Japão (BoJ) à queda dos juros do Banco Central Europeu (BCE), passando pelo adiamento da retirada da expansão monetária pelo Federal Reserve (Fed). Qual o efeito dessas medidas?
Há lições sendo reaprendidas: os BCs conseguem evitar o pior – a grande depressão – mas não trazem o crescimento sustentável de volta.
De fato, os indicadores econômicos globais mostram fraqueza apesar dos estímulos acumulados nos últimos anos. Nos EUA espera-se crescimento abaixo de 2% em 2013. Na China, o PIB cresceu 7,7% no primeiro trimestre, abaixo da previsão de 8,0%. Na zona do euro, a recessão deve se estender, com queda esperada do PIB de -0,7% em 2013.
Para estimular a economia nos países avançados, debate-se usar mais intensamente a política fiscal (mais gastos e subsídios). Mas a política fiscal está limitada pelas dívidas elevadas. As empresas e consumidores reduziram as suas, mas as dívidas públicas aumentaram como consequência. A política fiscal tem claros limites, não pode se expandir demais, pelo menos sem a compensação clara de cortes no orçamento críveis no futuro. O plano é necessário pelo menos para manter os credores – os que detêm os títulos da dívida pública – confortáveis em continuar financiando os governos endividados. Quando os credores perdem a confiança, ronda o ambiente o risco de uma reestruturação forçada da dívida (vulgo calote), com a recessão que segue. Não é coincidência que economias com dívidas muito altas, tendem a ter também crescimento menor ao longo do tempo (o famoso resultado de Reinhart & Rogoff se mantém apesar do “erro da planilha”, como outros estudos também mostram).
Apesar das velhas lições, os BCs continuam tentando. Na ausência de uma política fiscal que possa de fato estimular as economias, no curto prazo sobra pouco mais do que tentar redobrar a aposta nos estímulos monetários.
Nos EUA, o comunicado da reunião de maio do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Fed já mostrou que o afrouxamento quantitativo atual deve continuar por um bom tempo, no mínimo até o último trimestre deste ano. O Banco Central do Japão (BoJ) anunciou em abril um novo e bem agressivo programa de compra de ativos, com o objetivo de estimular a economia. O programa consiste, principalmente, na compra de títulos do governo japonês que, se seguido à risca, deve quase duplicar o seu balanço: um programa mais agressivo que o do próprio Fed. O Banco Central Europeu respondeu à nova fraqueza na atividade com uma redução da taxa básica para 0,50%, de 0,75% em maio, e provavelmente acabará expandindo seu balanço para facilitar o acesso ao crédito de pequenas e médias empresas dos países periféricos. Ou simplesmente cortará a taxa de juros que paga nos depósitos que recebe dos bancos, atualmente em 0%, para um valor negativo, se as condições piorarem . Quem disse que não existe taxa de juros nominal negativa?
Qual a consequência para as economias emergentes dos estímulos dos bancos centrais nas economias avançadas?
A manutenção dos estímulos monetários no mundo reforça o cenário de apreciação do câmbio e queda de juros nas economias emergentes. Mas não de forma uniforme. Depende também das condições específicas de cada país. Na América Latina há exemplos distintos. No México, por exemplo, projeta-se apreciação do câmbio e queda de juros como consequência do cenário global, mas também das reformas em curso. Na Argentina, em contraste, há uma pressão forte para desvalorização do peso, apesar das condições internacionais, em função do ágio de 100% no mercado paralelo e da queda de reservas internacionais.
No processo de tentativa e erro dos estímulos dos bancos centrais criam-se outras dúvidas. Qual o risco da forte expansão monetária e de juros tão baixos por tanto tempo no mundo?
O principal risco é o efeito colateral do remédio monetário. Em algum momento bolhas de ativos podem se formar, caso os investidores esqueçam a crise passada e, estimulados por juros quase zero, saiam às compras, não de bens de consumo, mas de ativos mais arriscados em busca de retornos mais elevados. Seria a receita para problemas futuros.
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