terça-feira, maio 07, 2013

Parada dura - CELSO MING

ESTADÃO - 07/05

O governo brasileiro está fortemente empenhado em que o embaixador Roberto Azevêdo seja eleito nesta sexta-feira o novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Azevêdo é profissional sério, dedicado e respeitado. Parece ser bem mais talhado para o cargo do que o outro candidato, o mexicano Hermínio Blanco, que conduziu as negociações de seu país para acordos comerciais paralelos à OMC.

Como Estados Unidos e a União Europeia apoiam Blanco, Azevêdo virou o candidato dos países pobres. O que talvez tenha se tornado fator decisivo nessa parada dura é a confusa política do Brasil. Azevêdo representa um país que não tem levado a sério seu comércio exterior.

A OMC é instituição historicamente identificada com a liberalização do comércio mundial. Busca insistentemente a redução gradativa das tarifas alfandegárias e coíbe práticas desleais de comércio.

Mas o Brasil trabalha na contramão dos ideais da OMC. É uma das economias mais fechadas do mundo. Seu comércio exterior (exportações mais importações) não pesa mais do que 20% no PIB, pouco quando comparado com o que acontece com outros países emergentes. O México, a China e a Coreia, por exemplo, são bem mais abertos do que o Brasil. Comercializam 43%, 47% e 93% de seus PIBs, respectivamente.

Além de fechado, o Brasil se mostra cada vez mais protecionista – como ficou demonstrado pela sua nova política automotiva, pelas redobradas exigências de conteúdo local e pela imposição de reservas de mercado para alguns setores industriais – num mundo cada vez mais dependente de suprimento global.

Nos últimos dois anos, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como a presidente Dilma Rousseff têm insistido em denunciar as políticas monetárias expansionistas dos grandes bancos centrais, destinadas a recuperar a economia global, como prejudiciais ao comércio dos países emergentes.

Eles têm seu punhado de razão. Não há como negar que essas políticas de desvalorização sistemática das moedas fortes produzem mais efeitos devastadores no fluxo do comércio mundial. No entanto, a excessiva beligerância do Brasil nesse tema, especialmente no âmbito do Grupo dos 20 (G-20), pode ter prejudicado a capacidade negociadora do Brasil dentro da OMC.

A política desastrada desenvolvida pelo governo brasileiro no Mercosul, principal bloco de integração de que participa, ajuda a criar a percepção de falta de compromisso com regras firmes e civilizadas de comércio. O governo brasileiro tolera o jogo travador e desintegrador provocado pela Argentina. Mostra-se omisso e subserviente diante dos métodos trogloditas praticados pelo seu secretário do Comércio, o ministro Guillermo Moreno.

Afora isso, o governo Dilma já não vinha dando condições consistentes de competitividade para o setor produtivo brasileiro. E agora assiste passiva e desinteressadamente à quebra da capacidade de investimento da indústria diante da perspectiva de forte redução de custos de produção dos Estados Unidos, que começa a tirar enorme proveito da energia abundante e barata proveniente da produção de gás de xisto.

CONFIRA

Medidas pontuais. Ao discursar nesta segunda-feira, na posse da nova diretoria da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo, a presidente Dilma Rousseff reconheceu que seu governo vem tomando “medidas pontuais”, mas avisou que busca “medidas estruturantes”. Parece que aí está o reconhecimento do curto alcance da “política de puxadinhos”.

O que oscila, oscila. A presidente também declarou que “qualquer oscilação no comércio exterior é apenas uma oscilação”. Ou essa afirmação é vazia ou precisa ser melhor explicada. Na Argentina, por exemplo, há uma oscilação no volume de dólares à disposição no mercado. É bem mais do que somente uma oscilação.

Produtividade. O único jeito de reduzir o custo do trabalho sem diminuir os salários, como prometeu Dilma nesta segunda, é assegurar políticas que aumentem a produtividade. E isso exige mais educação e mais treinamento. Coisa de longo prazo.

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