FOLHA DE SP - 12/05
A eleição do embaixador Roberto Azevêdo para o posto de diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) reflete o peso cada vez maior dos países emergentes na economia mundial.
Este não é um conceito subjetivo ou político, mas meramente o resultado da medida da produção de riqueza das diversas economias emergentes em comparação com a dos países ricos.
A ascensão do Deng Xiaoping ao poder na China após a morte de Mao e a inflexão rigorosa da economia chinesa em direção à economia de mercado provocaram uma mudança histórica nas relações de poder econômico mundial.
A China era, ao redor do século 15, a maior potência
econômica da Terra. Isolada do Ocidente, desinteressada do comércio internacional, mas ainda assim a maior potência econômica.
No momento em que a China voltou a ocupar o papel de potência econômica, desta vez globalizada e integrada aos mercados internacionais, ela abriu caminho para uma mudança fundamental na estrutura de poder econômico da qual o Brasil não apenas faz parte, mas tem papel relevante como uma das maiores economias emergentes.
Isso tem consequências práticas como, por exemplo, a discussão sobre a redistribuição de cotas do Fundo Monetário Internacional e agora a eleição do brasileiro pra dirigir a OMC, sintomaticamente os dois principais órgãos multilaterais da economia global. A eleição na Organização Mundial do Comércio revelou uma transformação notável da nova estrutura de poder: o alinhamento da Europa e dos EUA com a candidatura do México não foi suficiente diante do apoio da maior parte dos outros paí-
ses a Azevêdo.
Sua vitória reflete ainda a crescente capacidade profissional e técnica dos brasileiros.
Não foi sempre assim. Alguns anos atrás, organizações internacionais determinavam em estatuto que o diretor da sua operação no Brasil deveria vir do país-sede. Mas isso mudou dramaticamente.
O Brasil hoje tem profissionais em organizações públicas e privadas no mundo todo. Encontro sempre brasileiros nos Estados Unidos, na Europa, na África e na Ásia exercendo posições de relevância em empresas e organizações internacionais, o que mostra o potencial de nossa força de trabalho.
A eleição de Azevêdo não foi resultado apenas da evolução econômica global das últimas décadas, mas também da capacidade do profissional brasileiro de se afirmar por trabalho, por competência, por qualificação técnica e por equilíbrio emocional.
Sua vitória em Genebra prova que o investimento em educação e a meritocracia podem nos levar muito mais longe.
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