FOLHA DE SP - 01/05
RIO DE JANEIRO - Sempre que assisto pela TV a um jogo do futebol europeu, fico de olho nos torcedores nas arquibancadas. Que não me parecem arquibancadas, mas poltronas decapê e de veludo vermelho-vinho, como as da Philharmonie Kammermusiksaal, de Berlim, do El Real, de Madri, e de outros grandes teatros do Velho Mundo. E serão torcedores ou espectadores? As mulheres vestem Prada; os homens, Armani; seus óculos são Yves Saint Laurent; as bolsas e carteiras, Ghurka; os relógios, Vuitton.
Vejo-os sempre em animado colóquio antes do jogo. Imagino que os homens estejam discutindo Kant; as mulheres, Camille Paglia. Quando a câmera permite a leitura labial, julgo distinguir nomes como o da primeira-ministra alemã Angela Merkel ou do compositor espanhol Manuel de Falla, autor de "O Chapéu de Três Bicos". Enfim, o futebol é um prolongamento de seus salões ou dos gramados de seus castelos. Não admira que produzam um Messi, um Schweinsteiger.
Aqui é diferente. Nos nossos estádios, os torcedores, não importa a temperatura, usam toucas até as orelhas e casacos de legítimo material sintético, ótimos para camuflar estiletes, sinalizadores e um ou outro soco-inglês. Não lhes pergunte se, em poesia, torcem por Ferreira Gullar ou Augusto de Campos. Mas faça uma restrição a seus times do coração!
No passado, esses torcedores, mesmo a certa distância do gramado, mimoseavam jogadores, juízes e bandeirinhas com pedras, pilhas ou os próprios rádios. Alguns atiravam o chinelo. Agora é diferente. Nos nossos novos estádios, aprovados pela Fifa, em vez de chinelos atirarão seus tênis, que lembram o sapato de Boris Karloff em "Frankenstein". Ou o recém-inventado sucedâneo sonoro da granada: a caxirola --a aporrinhola inventada por Carlinhos Brown.
Não será surpresa se uma delas estrear em breve o coco do Felipão.
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