quarta-feira, maio 08, 2013

A engenharia do poder - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 08/05

É lamentável que a bandeira da micro e pequena empresa possa se prestar para interesses políticos tão descarados.


A confirmação do empresário Guilherme Afif Domingos como titular do 39º ministério do governo Dilma Rousseff _ a Secretaria da Micro e Pequena Empresa _ tem um efeito prático que vai além do inchaço do primeiro escalão, pois contribui também para confundir os brasileiros com a aproximação escancaradamente interesseira entre siglas políticas de visões antagônicas. A causa dos empreendedores é nobre e o indicado para o cargo tornou-se conhecido como um de seus maiores defensores. Ainda assim, o novo ministério poderia ter suas atribuições assumidas perfeitamente pelo do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. E o indicado chama a atenção não apenas por integrar um governo de oposição ao federal como também por estar na iminência de acumular dois cargos públicos, o que contraria até mesmo a legislação. O movimento, somado ao retorno de lideranças partidárias afastadas do governo por suspeitas de irregularidades, aponta para uma recaída da administração petista na flexibilidade ética geradora de danos ao país, como o mensalão.
Ainda que as justificativas oficiais procurem reforçar a intenção de apoiar as empresas de menor porte, os reais interesses são bem diversos. Na prática, ao cooptar um aliado do PSDB, que entrou para a política pelas mãos de Paulo Maluf e passou por administrações federais de diferentes matizes até ser eleito vice-governador de São Paulo e conquistar o posto atual, o governo federal mira acima de tudo a disputa eleitoral de 2014. O interesse é assegurar o tempo de televisão ao qual o PSD do novo aliado Gilberto Kassab dispõe para propaganda eleitoral, de um minuto e 39 segundos. Entre as intenções, pesa ainda a particularidade de a aliança reforçar o apoio ao governo federal, com os votos de 48 deputados em exercício e dois senadores.
Sob a ótica do governo federal, o PSD é visto também como essencial para uma aproximação com a classe média, de grande influência em qualquer eleição presidencial. E o próprio partido, obviamente, tem seus interesses específicos, a ponto de o indicado não hesitar em acumular o novo cargo, mesmo sob a ameaça de sofrer até mesmo um processo de impeachment na Assembleia de São Paulo, o que parece fazer todo o sentido.
É lamentável que a bandeira da micro e pequena empresa possa se prestar para interesses políticos tão descarados. Uma das características dos empreendedores é justamente gerar o máximo de emprego e renda com o mínimo de recursos. É uma situação inversa da prevista agora, já que o primeiro impacto da nova secretaria com status de ministério será a exigência de contratação de servidores, com a consequente ampliação dos gastos.


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