CORREIO BRAZILIENSE - 24/04
De todos os gestos que apareceram até agora nessa disputa pré-eleitoral rumo a 2014, o mais emblemático, até agora, entre os adversários da presidente Dilma Rousseff foi uma reunião ontem no gabinete do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Ali, estiveram representantes de todos os partidos que buscam alternativas ao governo, da oposição tradicional àqueles que ainda dizem estar aliados ao Planalto.
A lista é de peso. O senador Aécio Neves (PSDB-MG); Marina Silva, que trabalha a criação da Rede Sustentabilidade; o presidente do MD, deputado Roberto Freire; o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), como representante dos socialistas; o senador Pedro Taques (MT); o deputado José Antonio Reguffe (DF); e mais dois nomes do PDT, além de representantes do PSol. Participaram ainda o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, o deputado Arnaldo Jardim (MD-SP), o deputado Walter Feldmann, do PSDB, engajado na criação da Rede, entre outros.
O encontro serviu de largada para a criação, dentro do Senado, de um movimento contra o projeto que tira tempo de tevê e fundo partidário dos partidos que vierem a ser criados depois da sanção da lei. O governo investe pesado na aprovação da proposta, ao ponto de constranger os senadores do Acre, como Jorge Vianna, do PT, a votar a favor da proposta contra a sua conterrânea Marina Silva. Caso ela crie o partido, depois de aprovada essa lei, não terá direito a recursos do fundo partidário e nem tempo de tevê proporcional ao número de deputados que conseguir agregar.
Para muitos, essa reunião foi apenas mais um happening político sem muitas consequências, uma vez que o grupo é minoria no Senado. Mas, aos poucos, Dilma Rousseff, ao ligar o trator do governo contra Marina Silva, pode terminar dando um ponto de liga a seus adversários, o que não ocorreu em 2010.
Na eleição passada, Marina foi candidata, mas anunciou neutralidade no segundo turno. Não ficou contra Dilma. Agora, ao sentir o aparato governista jogando tudo para impedir que a Rede tenha mais estrutura para atrair políticos de peso, nada impede que ela aja de forma diferente na próxima temporada eleitoral, colocando-se contra o governo Dilma.
Obviamente, hoje tanto Aécio como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sonham em ter Marina na vaga de vice. Entretanto, não é apenas por esse sonho que se movimentam em torno da ex-ministra do Meio Ambiente, detentora de 18% das intenções de voto. Eles apostam também nas circunstâncias e na naturalidade que determinados gestos vão criando.
Essa aproximação, feita aos poucos e devagar, promete se intensificar e dará aos adversários de Dilma uma convivência que, logo ali na frente, pode terminar por tirar muita gente boa do palanque da petista, em um segundo turno. Ou, pelo menos, reduzir a neutralidade. Ninguém chamará de amigo ou aliado, muitos menos dará apoio, a quem lhe passou o trator. E, se continuar assim, o remédio de hoje, pode ser o veneno de amanhã.
Enquanto isso, no passado...
Não dá para se esquecer do que houve por, exemplo, em 2002. No início daquele ano, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, despontava como uma novidade na qualidade de pré-candidata a presidente da República. Uma operação da Polícia Federal na sede da Lunus, uma empresa do marido de Roseana, terminou por tirar a governadora do páreo, por causa do dinheiro vivo sobre a mesa. Roseana, constrangida, desistiu da candidatura e, tempos depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) lhe devolveria o dinheiro que, segundo contado pelo então presidente do PFL, Jorge Bornhausen, tinha sido enviado pelo partido.
À época, Roseana e seu pai, o senador José Sarney (PMDB-AP), convenceram-se que o escândalo teve um dedo do então pré-candidato do PSDB, José Serra. O delegado da operação era ligado a Serra e, embora não houvesse nada que identificasse a participação do tucano no episódio, o estrago político ficou. O PFL rachou e não integrou a aliança. Serra teve como vice a deputada Rita Camata (PMDB-ES). Sarney e Roseana apoiaram Lula.
Esse episódio serve para mostrar que, quando o trator é acionado, mágoas políticas ficam. Marina Silva pode até não conseguir montar seu partido até setembro por conta dos trâmites burocráticos. Poderia até ser acusada de demorar tanto para decidir que, por isso, a Rede Sustentabilidade não saiu. Ficaria com imagem de vacilante. Agora, se passar essa lei, sairá como vítima e fechará a porta para o governo que lhe sufocou. A história está com cara de que vai se repetir.
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