CORREIO BRAZILIENSE - 24/03
Até o momento, só se veem os petistas falarem em alianças nos estados onde pretendem ter a cabeça de chapa. Em São Paulo, por exemplo, buscam um caminho próprio e uma forma de atrair o PMDB
Com data marcada para novembro deste ano, o Processo de Eleição Direta (PED) do PT começa a preocupar aqueles mais “pé no chão” dentro do partido, leia-se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu entorno. O que mais tira o sono do grupo que analisa tudo com um certo distanciamento paternal é a forma leve e solta como os petistas estão levando os movimentos nos estados.
Com sua reeleição na roda e praticamente garantida, o atual presidente do PT, Rui Falcão, não age de forma a contrariar desejos dos estados. Daí, o crescimento de vozes nas instâncias estaduais petistas exigindo palanque único para a presidente Dilma Rousseff e também o lançamento de candidato próprio a governador pelo país afora.
Até o momento, só se veem os petistas falarem em alianças nos estados onde pretendem ter a cabeça de chapa. Em São Paulo, por exemplo, buscam um caminho próprio e uma forma de atrair o PMDB. No Rio Grande do Sul, onde Tarso Genro concorrerá à reeleição, esse poder de atratividade sobre o PMDB não existe, mas o mesmo não se pode dizer daqueles partidos que tradicionalmente apoiam o PT, caso do PCdoB.
A defesa de alianças cai por terra no Rio de Janeiro, onde os petistas se preparam para lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias, atual presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, colocado nesse cargo justamente para obter maior visibilidade para sua pré-campanha. No Rio, o PT parte para um afastamento dos peemedebistas, que têm o governo estadual e planejam mantê-lo com a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão.
Pezão fez questão de comparecer à posse do ministro da Agricultura na semana passada, em Brasília. Começou ali uma aproximação maior com a cúpula do partido no sentido de agregar aliados para tentar forçar o PT a desistir da candidatura de Lindbergh.
O próprio Lula não descarta ali na frente ver o PT abrindo mão de algumas candidaturas para reforçar os palanques de Dilma. Está inclusive preocupado com o caso do Rio, onde Lindbergh se mostra disposto a seguir por um caminho sem retorno.
Reza o ditado da política que fato, depois que cria perna, ninguém segura. A candidatura de Lindbergh talvez esteja chegando nesse ponto e ninguém da cúpula do PT, hoje mais focada no PED, parece ter se dado conta de que a coisa nos estados está correndo solta para não prejudicar a eleição interna. Apenas Lula e o seu grupo.
O ex-presidente deseja que os petistas planejem os passos sem fechar a porta da saída da candidatura, caso seja muito necessário para preservar a prioridade do partido para o ano que vem, a reeleição de Dilma. Afinal, retirar candidaturas depois é muito mais traumático.
Por falar em traumas...
O próprio Rio de Janeiro já sofreu na pele a intervenção do diretório nacional quando da eleição de Anthony Garotinho para o governo estadual, quando ainda era do PDT. Outro caso que não chegou a esse ponto, mas também não fácil foi a candidatura a prefeito de São Paulo, no ano passado. Lula precisou intervir e tirar políticos tradicionais da disputa interna para garantir a vaga de candidato a Fernando Haddad. E fez isso com bastante antecedência numa campanha que não estava tão antecipada quanto a sucessão presidencial do ano que vem. Ou o PT segura o fato enquanto ele não cria pernas ou então terá que se esforçar muito mais para correr atrás do prejuízo.
Enquanto isso, na CMO...
O clima começa a esquentar para a escolha do presidente da Comissão Mista de Orçamento, posição reservada para o Senado. O cargo estava prometido ao senador Lobão Filho (PMDB-MA). Mas ele não pode assumir porque é suplente. O PT reivindica com o presidente da Casa, Renan Calheiros, a nomeação do senador Valter Pinheiro (PT-BA). Vem mais um capítulo da queda de braço entre os dois partidos que parecem ter como lema: “Aliados, aliados, cargos à parte”.
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