O ESTADÃO - 24/03
Quem olha para os números da economia pode ter a impressão de que os problemas estão se acumulando e que estão à beira de deixar o governo sem ação.
Mas não é bem assim. Apesar do desempenho insatisfatório, nada aponta para um descarrilamento geral. Entre os principais problemas estão o PIB fraco, a inflação em alta, um rombo crescente nas contas externas, emperramento dos investimentos - tanto públicos como privados - e gargalos de toda ordem: dos portos, dos aeroportos, das rodovias, das ferrovias, do trânsito nas grandes cidades.
Alguns comentaristas alegam que a ineficácia do governo Dilma na execução de políticas, mais cedo ou mais tarde, passará uma conta eleitoral, querendo dizer com isso que o PT no governo corre riscos nas urnas. E esses riscos poderiam aumentar se o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), continuar comendo o pirão do PT no Nordeste; se o senador Aécio Neves (PSDB) continuar comendo seu angu em Minas; e se a ex-senadora Marina Silva seguir colhendo frutinhas do PT em todo o País.
O problema é que a presidente Dilma Rousseff, virtual candidata a um segundo mandato na Presidência da República nas eleições de 2014, continua ostentando confortável margem de aprovação a seu governo, de nada menos que 63%. Somente um desastre na economia brasileira parece capaz de corroer essa vantagem.
Em Seminário de Conjuntura realizado sexta-feira na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, o professor Juarez Rizzieri observou que um descarrilamento desse tipo está fora de cogitação. Ainda que a inflação perfure o topo da meta (os 6,5% em 12 meses); que a atividade produtiva prossiga fraca; que o índice de desemprego aumente; e que o déficit em Conta Corrente (fluxo de pagamentos com o exterior) dispare fortemente, nada parece indicar um desarranjo importante da economia de modo a desestabilizar o jogo da presidente Dilma.
Esse quadro aponta para três consequências. Primeira, o governo federal deverá continuar levando adiante a atual política populista de aumento de renda, de estímulo ao consumo, de alto nível de emprego e de adiamento dos reajustes das tarifas públicas. Segunda, nenhum dos grandes problemas da economia, que hoje dependem de arbitragem de perdas patrimoniais e de pagamento de contas (como o ataque à inflação, forte redução das despesas públicas, alta dos juros, solução das maiores distorções tributárias e reforma da Previdência Social), será enfrentado com determinação - o que poderá ficar para depois ficará. E, terceira consequência, prosseguirá a atual política dos puxadinhos que pressupõe soluções provisórias e pouco abrangentes para os problemas que aparecerão pela frente.
Em outras palavras, daqui em diante, caso nada de extraordinário aconteça, não se deve esperar mais nenhuma decisão do governo Dilma que, de alguma maneira, possa ameaçar a sua vitória nas urnas no ano que vem. É a política do banho-maria, da dona de casa que não quer aumentar a fervura para que tudo seja cozido lentamente, para dar o tempo ao tempo.
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