O GLOBO - 07/03
Mas Dilma não pode deixar o país na dependência do acaso. É crucial reduzir o custo Brasil, pela modernização dos portos, licitação de projetos de infraestrutura etc.
Se um retrato da China tirado há uma década fosse projetado mecanicamente para mais dez ou vinte anos, mostraria uma potência mundial hegemônica, depois de, em função das imbatíveis condições oferecidas às empresas, ter atraído a maior parte das grandes linhas de produção industrial do planeta.
Mas, como a vida, a economia é mutante por natureza. E é parte de qualquer processo de industrialização que a procura incessante por fatores de produção — mão de obra, por exemplo — faça o seu custo subir e alterar as margens de competitividade da região em crescimento. Na realidade, não é tão simples assim, pois políticas cambiais podem compensar os efeitos negativos do encarecimento de custos internos, mas, em algum momento, os ventos podem mudar.
Acontece com a China. Segundo cálculos da Boston Consulting, o longo ciclo de salários baixos está se esgotando: entre 2005 e 2010, os salários chineses aumentaram anualmente, em média, 19%, contra 4% nos Estados Unidos. Claro, ainda há enorme distância entre os dois níveis de remuneração — mas já foi bem maior.
A Ford americana fechou acordo com sindicatos para criar, até 2015, 12 mil empregos à base de US$ 15 e US$ 16 por hora, segundo “O Estado de S.Paulo”. Enquanto na China, com aumentos de 18% anuais, a remuneração média poderá chegar a US$ 6,31 em 2015. Porém, em 2000 era irrisório meio centavo de dólar.
Este é um dos fatores por trás da volta de fábricas para o Ocidente. O próprio Brasil receberá parte do que a Mattel, um dos maiores fabricantes de brinquedos do mundo, produz na China.
A Apple é conhecida por trazer, há algum tempo, em seus produtos o registro: “Projetado na Califórnia, montado na China”. Pois mandará de volta para os Estados Unidos pelo menos uma linha de montagem de computadores Mac.
Não são fatos isolados. No México, a recuperação da economia se deve, em alguma medida, à volta de linhas de montagem que se instalaram na fronteira com os Estados Unidos — as “maquiladoras” —, no âmbito do acordo de livre comércio com americanos e canadenses (Nafta), mas que foram atraídas pelos baixos custos da China.
A torcida é que a produção de calçados que o Brasil perdeu para os chineses também tome o caminho de volta. Mas o governo não pode esperar de braços cruzados. O acaso precisa ser apenas mais um incentivo a que a presidente Dilma não recue no projeto estratégico de reduzir para valer o chamado custo Brasil. Não pode ficar na dependência do que acontece na economia chinesa, nem de manipulações cambiais que funcionam como acelerador da inflação, já bastante elevada.
Libertar os portos de esquemas cartoriais, cortar impostos para valer, desbastar a densa burocracia, fazer as devidas concessões na melhoria e ampliação da infraestrutura são necessidades imperiosas, incondicionais.
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