CORREIO BRAZILIENSE - 26/03
… Eleição à parte. O que se viu e ouviu ontem em Serra Talhada, no sertão pernambucano, foi uma disputa de discursos rumo a 2014. No tablado em que a presidente Dilma Rousseff inaugurou a primeira etapa do sistema de adutoras do Pajeú, ela e o governador Eduardo Campos, pré-candidato pelo PSB, colocaram de público suas armas, literalmente nas entrelinhas de gestos e palavras. Eduardo se firma na busca de uma prática política calcada na capacidade de diálogo e respeito às diferenças e “fazer do público efetivamente público” e um portfolio de realizações estaduais. Dilma se sustenta no projeto que criou o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e a geração de empregos, puxando ainda o orgulho feminino de ver uma mulher no comando do país.
Ela aproveita o embalo para deixar implícito que precisa “de parceiros comprometidos com esse caminho”. Ele, ao discursar, diz que sempre foi leal. Mas, em nenhum momento cita comprometimentos de longo prazo. Ela, por sua vez, antecipa anúncios de programas no estado. Ele agradece e menciona por diversas vezes a relação republicana. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, nas entrelinhas, também toma partido. Ao discursar, antes de Eduardo e de Dilma, deixa implícito que estará ao lago do governador. Pré-candidato ao Palácio das Princesas, o ministro sabe das dificuldades de empunhar uma campanha ali sem ser ao lado do atual inquilino do poder máximo do estado. (Não por acaso, Dilma o chamou ao púlpito enquanto discursava para que ele anunciasse a decisão dela de construir a ferrovia há tempos sonhada pelos conterrâneos de Fernando Bezerra Coelho em Petrolina. Agora, se ele ficar contra ela, a petista sempre poderá acusá-lo de ingratidão).
Em comum nos dois discursos, de Dilma e Eduardo, o enaltecimento ao ex-presidente Lula. Hoje, entretanto, aquela ligação quase que paternal do ex-presidente com o governador esfriou. Talvez graças ao leva-e-traz de petistas que dia e noite reclamam do jeito desenvolto com que Eduardo Campos circula pelas mais diversas rodas, tentando atrair aliados de Dilma para 2014. Além disso, Lula é Dilma e é PT e o PSB sabe disso.
Mas, dadas as circunstâncias e a altura do jogo, não parece ser na base governista que o socialista arranjará combustível, leia-se tempo de tevê. Entre os amigos de Eduardo, há quem diga com todas as letras que ele será candidato a presidente e fará duas disputas em uma: a primeira, obviamente, é o cargo que Dilma ocupa hoje. A segunda é a primazia da concorrência, leia-se oposição. Ele aos poucos vai sendo empurrado para esse caminho, embora nos palanques persista o discurso da parceira e lealdade, hoje entendida como a relação republicana que deve pautar a vida de governantes em diferentes níveis de poder. Eduardo, aliás, por diversas vezes citou ontem essa necessidade de não se olhar coloração partidária e deixar de lado a arrogância que muitas vezes pauta a relação política.
Ao disputar a primazia oposicionista, ou seja, a vaga no segundo turno contra a presidente-candidata, Eduardo terminará buscando os mesmos partidos que hoje o senador Aécio Neves, do PSDB, tenta conquistar. O PSB está de olho tanto no DEM quanto no PPS de Roberto Freire, que, aliás, em recente entrevista, disse estar aberto a conversar com quem for capaz de apear o PT do Palácio do Planalto. E tem mais: se houver janelas para troca de partido até outubro, sem que os protagonistas estejam sujeitos a processos de perda de mandato por infidelidade, podem apostar no crescimento do PSB. Eduardo está na pista. E as apostas são as de que logo ali mostrará que respeita Dilma, é seu amigo, mas acredita que pode fazer mais por ser mais jeitoso na seara política do que o PT, que apenas Lula como o grande construtor respeitado por todas as tendências do partido. Os demais não conseguem essa primazia.
A aposta geral é a de que esse posicionamento de Eduardo, que estava previsto para setembro, venha nas festas de São João. Afinal, ele já começou a pular fogueira.
Enquanto isso, em São Paulo…
Aécio já percebeu há tempos que Eduardo, pelo menos à primeira vista, soará como adversário. E para não perder terreno precisa amarrar logo a ala paulista. Ontem foi explícito ao dizer que um candidato do partido precisa do apoio do governador Geraldo Alckmin e ainda se reuniu com representantes da ala mais ligada ao ex-governador José Serra, caso de Andrea Matarazzo, o senador Aloysio Nunes Ferreira e o vice-presidente do partido, Alberto Goldman. A julgar pelas palavras de Goldman, lembrando os 12% que José Serra apresentou na pesquisa, Aécio ainda terá que passar muito tempo por ali para conquistar esse grupo. Mas, assim como a hora da verdade de Eduardo Campos está chegando, a dos paulistas também não vai demorar muito. Afinal, como já dissemos aqui, se os tucanos não correrem, há o risco de serem ultrapassados pelo PSB.
Até aqui, o que vemos é uma diferença básica entre os dois partidos. Os integrantes do PSB, à exceção da ala cearense, se gostam, se frequentam, se mostram verdadeiramente felizes e unidos quando estão juntos. Os tucanos não têm o mesmo comportamento. Em São Paulo, a distância entre os grupos de Serra e Alckmin é perceptível. Só se unem quando pressentem que, separados, estarão perdidos. Dentro do PSDB, conforme apresentam os próprios tucanos, não vale nem o ditado “amigos, amigos, eleições à parte”. Afinal, amizade, no verdadeiro sentido da palavra, passa meio longe no ninho paulista do partido. Mas essa é uma outra história.
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