O boletim Focus, publicação semanal do Banco Central (BC) com as projeções de economistas do setor privado, apresentou ontem ligeira mudança de tom. Depois de muito tempo registrando tendência de queda para o desempenho da economia em 2013 e alta na variação da inflação, no acumulado deste ano civil, as estimativas, na segunda semana cheia de fevereiro, inverteram as trajetórias, de volta à posição em que se encontravam há um mês.
Típica do Focus, a dança das projeções é um minueto de movimentos lentos e milimétricos, que, a partir dos sinais emitidos pela economia a cada momento, promove ajustes finos nas previsões para o fim do ano. Se embute riscos de desvios fortes no médio prazo, o método reflete bem, no curto prazo, o zigue-zague dos indicadores econômicos.
Nada melhor do que a imagem do zigue-zague para descrever os dias atuais - tanto na economia doméstica, como na internacional. No caso do Brasil, é o que deve confirmar o IBGE, com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, prevista para esta sexta-feira.
Se isso for verdade, é possível formular um único resumo da conjuntura econômica, tanto lá quanto cá, com base no ocorrido no último trimestre de 2012 e no que se pode esperar deste primeiro trimestre: redução da marcha no fim do ano, retomada no começo de 2013. A questão é descobrir o quanto essa retomada tem de consistente.
Nem lá, nem cá é o caso de acreditar que alguém tenha alguma resposta realmente esclarecedora. O teto baixo das projeções de crescimento já sinaliza para apostas mais arriscadas. No lado externo, o recuo da economia europeia no último trimestre de 2012 veio acompanhado de análises otimistas sobre as perspectivas no começo de 2013.
No entanto, o último informe da Comissão Europeia, divulgado na semana passada, jogou água fria na fervura branda das indicações de melhora no ritmo de atividade. As previsões mais recentes, para a média do ano, na União Europeia, são de estagnação econômica.
Em duas outras economias estratégicas - Estados Unidos e China -, o desenho da curva de crescimento não é muito diferente. Nos Estados Unidos, o traçado previsto para o andamento dos negócios também é de altos e baixos, num intervalo estreito, entre 1% e 2% anuais, sem grande vigor.
Com dificuldades americanas de alcançar um acordo duradouro sobre a questão fiscal, o debate em torno da eficácia do atual expansionismo monetário tem se intensificado, o que permite supor que a política do Federal Reserve (o BC dos EUA) de garantir liquidez quase ilimitada possa durar menos do que se previa.
Na China, segundo a maioria das análises, foi possível levar a economia a um pouso suave. Mas o acomodamento da expansão econômica nos entornos de uma faixa entre 7% e 8% ao ano, longe dos antigos 12%, mas igualmente distante dos preocupantes 3% a 5% que chegaram a ser previstos, não está isento de incertezas. Ainda há dúvidas sobre as consequências do estouro de sucessivas bolhas imobiliárias e de problemas relacionados ao endividamento das famílias. A trajetória do crescimento chinês, por isso mesmo, é outra que pode percorrer linhas de altos e baixos.
Também contidas em intervalos estreitos, as projeções para o crescimento da economia brasileira estão, no momento, obedecendo ao mesmo padrão ziguezagueante. Com a inflação evoluindo em níveis próximos ao teto da meta, acirrando o ativismo do governo na econômica, e a ambiguidade hoje presente na política monetária, a aventura de prever a variação tanto do PIB quanto dos índices de preços, neste ano mais do que em outros, está exigindo que se assumam maiores doses de risco.
Não é, de fato, possível produzir alguma projeção útil sem definir o que acontecerá com a taxa básica de juros (Selic) e, por tabela, com a taxa de câmbio. São muitas as indagações para as quais sobram especulações, mas não há ainda respostas.
Exemplos: o Banco Central vai manter a taxa estabilizada em 7,25% anuais até o fim de 2013 ou retomará um ciclo de alta da taxa e quando? A intensidade dessa eventual retomada levará os juros básicos a 8%, 8,5% ou 9%? E em que ritmo virão essas altas?
A moral da história é que, tanto para economias maduras quanto para emergentes continentais, a economia brasileira entre elas, a transição de uma etapa de estagnação ou de baixo crescimento para um novo ciclo de expansão consistente não está se dando em linha reta.
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