O GLOBO - 26/02
O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, prevê que o Brasil vá crescer entre 3% e 3,5% este ano. É dos mais otimistas. Já há previsões abaixo de 3%. Acredita que o período de forte crescimento mundial dos anos 2000, que define como Belle Époque, é página virada. A economia global afastou o pior cenário em 2012, mas está num longo ciclo de cautela. A falta de confiança dos empresários é nosso maior risco.
O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco tem sondagens mensais com empresas de vários setores e com base nessas pesquisas é que são montadas as análises de conjuntura:
- Os estoques estão voltando aos níveis normais, e em alguns casos já estão abaixo do desejado. Não haverá uma explosão de investimentos, mas podemos contar com uma melhora gradual ao longo do ano - disse Octavio de Barros em evento organizado pela Anefac.
Depois de cinco - talvez seis trimestres de queda do investimento - acredita que a Formação Bruta de Capital Fixo vai subir entre 3% e 4%, mas não ficaria surpreso se chegasse a 7% e 8% em 2013. Octavio está esperando uma surpresa boa na produção industrial de janeiro. Nessa, muita gente aposta. A venda de caminhões foi normalizada. Em 2012, a produção despencou porque os novos caminhões tinham motor Euro 5, mais caro, e o diesel limpo não estava bem distribuído. Quem quis comprar, comprou o velho modelo:
- O PIB do primeiro trimestre pode vir com alta de 1%, o que daria um crescimento anualizado de 4%. Mas, depois disso, haveria desaceleração.
Usa uma expressão curiosa. Diz que o Brasil tem "enormes jazidas de produtividade para explorar". Uma delas será o aumento da produção de uma retomada, e outra, os ganhos econômicos que se pode ter investindo mais em educação da mão de obra. No ano passado, a produção caiu, mas o emprego se manteve. É que as empresas, explica, preferiram não demitir porque sabiam que teriam muita dificuldade em recontratar:
- Isso explica por que houve queda muito forte da produtividade em todos os indicadores. A produção caiu, mas o número de funcionários se manteve. Agora, teremos um efeito contrário: com o mesmo número de trabalhadores, a produção vai aumentar, e a produtividade, também.
Aposta que os juros vão ficar estáveis, mas admite chance de 30% a 40% de que subam em doses de 0,25%, sem voltar ao nível anterior.
- Nosso cenário tem inflação em 5,4%, com queda puxada pelas desonerações. A taxa pode ser ainda mais baixa, dependendo da intensidade dos cortes de impostos. As desonerações foram tão fortes que quase chegam a ser horizontais. Não vejo hipótese da inflação desgarrar.
Tem projeção de saldo comercial de US$ 24 bi, pela recuperação mundial que puxa as commodities. Octavio de Barros acha que o maior risco para a economia brasileira em 2013 é o setor privado não se sentir confiante para investir. Acredita que o mundo está diferente este ano - para melhor - em relação a 2012, sem vários dos riscos que assustaram. Acha que a economia mundial vai se recuperar, mas não rapidamente. Ou seja, não seria um volta do crescimento em "V":
- O desenho da recuperação vai lembrar o símbolo da Nike: depois da queda forte, uma alta lenta e prolongada. Esse é o novo padrão normal do mundo.
Acredita que a inadimplência das pessoas físicas vai cair, mas, como haverá menor concessão de crédito, por efeito estatístico ela vai se diluir mais devagar. Prevê a taxa em 6,4% no final do ano, contra 7,9% de agora. O que aconteceu no ano passado é que a crise pegou o mundo superestocado:
- Há 25 milhões de carros ociosos no mundo, mais de 500 milhões de toneladas de aço.
Sobre o mau humor em relação ao Brasil, explica que na visão dos estrangeiros o Brasil é dependente químico da China. Quando há notícia de queda do PIB chinês, o Brasil é afetado. Admite que não somos mais o "queridinho", mas discorda que o país seja mal visto.
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