CORREIO BRAZILIENSE - 26/02
A virada do mês marca um passo atrás na pré-candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, contra Dilma Rousseff. E não é nada que tenha a ver com a frase dita pelo ex-deputado, ex-ministro da Fazenda, ex-governador e ex-prefeito de Fortaleza Ciro Gomes. Tem a ver com a necessidade de os governadores do partido respirarem com alguma tranquilidade. Pelo menos, enquanto 2014 do calendário gregoriano não chega.
O PSB tem seis governadores, dos quais pelos menos quatro têm sérias dúvidas sobre a pré-campanha do partido, e pedem calma bem ao estilo devagar com andor, porque (por enquanto) a candidatura é de barro. São eles: Cid Gomes, do Ceará, e os três que sonham em concorrer a um segundo mandato de governador — Ricardo Coutinho, da Paraíba, Renato Casagrande, do Espírito Santo, e, ainda, Camilo Capiberibe, do Amapá.
Dos três governadores que têm o direito de disputar mais quatro anos de comando, Capiberibe e Casagrande têm vices petistas e fizeram a campanha em parceria com os aliados. Ou seja, no momento em que Eduardo Campos colocar o bloco na rua, bagunça o coreto de seus principais palanques. Na Paraíba, diante do anúncio antecipado de Gilberto Kassab de que a tendência é apoiar Dilma Rousseff, Ricardo Coutinho, também terá dificuldades com o vice do PSD, Rômulo Gouveia.
Obviamente, o fato de os governadores estarem mais preocupados hoje com a própria sorte no ano que vem não é o único ponto que deixa Eduardo Campos sem muito oxigênio para tocar a campanha. Afinal, como já foi dito e repetido pelos petistas — inclusive por Lula —, o governador de Pernambuco tem o direito de pleitear uma candidatura presidencial. Mas, nesse caso, deve saber de antemão que contará apenas com as próprias forças, e olhe lá. Lula já lançou Dilma Rousseff, é padrinho da candidatura dela desde 2008, quando ainda era presidente e ela ministra da Casa Civil, e moverá tudo o que puder para segurar a candidatura de Campos. A primeira atitude será via governadores, manifestando apoio a eles no que vem.
Enquanto isso, no Congresso…
A lógica da bancada de deputados e senadores do PSB é bem diferente daquela dos governadores. Na Câmara, há uma empolgação geral entre os parlamentares, e todos têm motivos pessoais para apostar nessa novidade. A principal razão é o trator petista. Em muitos estados, os socialistas penam nas campanhas para deputado contra o PT. Ainda que estejam coligados, os petistas se saem melhor porque têm a candidatura presidencial. Basta ver que o PT tem 88 deputados e o PSB, 26. Nesse quadro, é natural que os socialistas demonstrem um certo cansaço em carregar o piano petista Brasil afora para, na hora do vamos ver, o PT sempre levar a melhor.
Tentando se equilibrar entre o desejo da bancada e o “muita calma nessa hora” que vem dos governadores, a cúpula do PSB trata de ter um comportamento mais sóbrio. Em seu artigo mais recente, o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, que faz tudo combinado com Eduardo Campos, repete que “discutir sucessão agora é um desserviço à democracia”. Lembra ainda que o partido sempre esteve ao lado das campanhas de Lula. Desde a Frente Brasil Popular, de 1989, contra o então governador de Alagoas, Fernando Collor.
Mas ao mesmo tempo que cita os aniversários do longo casamento com o PT, Amaral faz questão de deixar claro que o patrimônio construído nesse período e o projeto de governo — distribuição de riquezas, defesa da soberania nacional, desenvolvimento econômico e por aí vai — não pertencem nem ao PSB nem ao PT. Diz, com todas as letras, que é da sociedade brasileira. Àqueles que leram o artigo, peço licença para repetir a frase que soa como um alerta ao PT, que trata de colocar Eduardo Campos no terreno da oposição e trata 2013 como se fosse ano eleitoral: “Encurtar o mandato da presidente, como o faz o debate sobre sua sucessão, só pode render frutos a uma oposição anêmica, sem vigor (…)”. O recado de Amaral vale não apenas para a oposição, como também para o PT, que aproveitou o embalo dos 10 anos de governo para colocar Dilma no palanque.
Bem… Ao que tudo indica, parece que os governantes, seja em que nível for, vão parar de discutir 2014 e se agarrar no serviço de cuidar da inflação, do Fundo de Participação dos Estados (FPE), das obras contra enchentes, do preenchimento das comissões técnicas da Câmara e do Senado, dos vetos, do Orçamento, das medidas provisórias, dos portos e dos aeroportos. Trabalho não falta, e parece que eles perceberam. Finalmente!
Governadores do PSB candidatos à reeleição puxam o freio da pré-candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República. Muitos são aliados do PT em seus estados e não querem bagunçar o coreto desde já. Esse é o tom da virada pós-carnaval
Nenhum comentário:
Postar um comentário