Em meio à ofensiva do governo destinada a reassumir a capacidade de condução das expectativas, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reforçou ontem suas declarações de guerra à inflação, desta vez ao Wall Street Journal, dos Estados Unidos. Disse ele que a prioridade da autoridade monetária no Brasil é combater a inflação, e não garantir o crescimento econômico.
O mercado financeiro acionou os neurônios dos melhores cérebros para tentar entender até que ponto o Banco Central voltará a usar a política de juros para o contra-ataque à inflação - cuja prioridade foi assim reafirmada. Mas há outro aspecto que precisa ser mais bem entendido.
Nesta conjuntura de desempenhos baixos do PIB, Tombini parece rejeitar velhas reivindicações de que o Banco Central do Brasil deveria operar com duplo mandato: além de empurrar a inflação para dentro da meta, caberia a ele também assegurar o avanço robusto do emprego.
Atenção para a expressão: avanço do emprego. Em geral, avanço do emprego e avanço da produção (crescimento econômico) têm sido tomados como quase sinônimos. Nos Estados Unidos, onde por lei há duplo mandato, o Fed (o banco central americano) tem avisado que, no momento, sua política monetária (política de juros) está quase inteiramente voltada para sustentar a criação de empregos, porque não há inflação que preocupe. Lá, o esforço para a criação de empregos é entendido como equivalente ao destinado a expandir a atividade econômica.
No Brasil, a situação é diferente. Hoje há pleno emprego, mas com baixíssimo crescimento econômico. Faz meses, o Banco Central vem advertindo que o mercado de trabalho está excessivamente aquecido, incapaz de promover aumento de produtividade na indústria. Dessa maneira, o mercado de trabalho tem concorrido no País para puxar para cima os custos de produção e a inflação. Portanto, caso a prioridade seja o controle da inflação - e não incentivar o crescimento, como acaba de avisar Tombini -, segue-se que, atualmente, o Banco Central do Brasil não deve contribuir ainda mais para a criação de empregos. Deve, sim, concentrar seus esforços na tarefa de derrubar a inflação.
Como conciliar a necessidade de incrementar o PIB sem esticar demais o mercado de trabalho é, por si só, um desafio e tanto. Mas a questão imediata consiste em saber como é que o Banco Central combaterá a inflação.
Se a decisão é manter os juros onde estão "por um período de tempo suficientemente prolongado", como está nos textos oficiais; se está fora de cogitação usar a política cambial como instrumento de controle da inflação; e se também não vai recorrer às tais políticas macroprudenciais (controle do crédito) para segurar a alta dos preços, fica difícil saber que armas sobrarão no arsenal para o cumprimento da tarefa prioritária do Banco Central.
Como não conseguem acionar políticas públicas para seus objetivos imediatos, as autoridades da área monetária tentam conter os remarcadores de preços somente com conversa. Mas é improvável que obtenham sucesso duradouro apenas com esse recurso. Sendo assim, talvez tenham de recorrer novamente ao aperto dos juros.
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