BRASIL ECONÔMICO - 26/02
É impressionante como, no Brasil, os responsáveis pela explicação de problemas apelam para argumentos incapazes de convencer a sociedade de que estão certos.
Um dos casos mais recentes é o dos dirigentes da Ecovias, empresa que administra o sistema Anchieta-Imigrantes, o caminho mais curto entre a cidade de São Paulo e o litoral.
Apenas para efeito de registro, ali se cobra o pedágio mais caro do país: RS 21,20. Na noite da última sexta-feira, a Rodovia dos Imigrantes, um conjunto de pontes e viadutos que não oferece um caminho alternativo para o usuário que desce ou sobe a Serra do Mar, foi inundada por um lamaçal que invadiu o asfalto e paralisou o trânsito.
Tragédias acontecem e ninguém pode responsabilizar a Ecovias pela tromba d'água. O problema, no entanto, é que não havia nenhum plano de emergência traçado para enfrentar uma situação daquela natureza.
E a partir do momento em que as chuvas desabaram e a estrada ficou intransitável, os usuários foram abandonados ao deus-dará - sem que aparecesse um funcionário da Ecovias para prestar socorro ou oferecer esclarecimentos.
A explicação oficial é que a empresa foi pega de surpresa. Em apenas duas horas choveu o previsto para um dia inteiro - e isso gerou uma situação de anormalidade completamente fora do padrão.
Por causa dos 150 mm³ de chuvas, um grande deslizamento teve início a mais de meio quilômetro da pista e causou todo o transtorno. Por mais razoável que tenha sido isso mesmo que aconteceu, nada justifica o fato de nenhum plano de emergência ter sido posto em prática. Esse é o problema.
Como o próprio nome indica, planos de emergência existem para lidar com situações inesperadas. Se for para trabalhar dentro dos níveis de normalidade, não é necessário plano algum.
A conclusão que se pode tirar diante das cenas tenebrosas assistidas na Serra do Mar e da morte de pelo menos uma pessoa é que, apesar de ser exigido em contrato, a rodovia mais cara do país simplesmente não tem um plano de emergência. Ou, se tem, não se mostrou competente para colocá-lo em prática diante da necessidade.
O mais absurdo de tudo é alguém ainda dizer que chuvas em excesso nesta época do ano é um fenômeno anormal na região da Serra do Mar. Ninguém no Brasil desconhece o fato de que os litorais dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, entre novembro e março, sempre estão sujeitos a tempestades - e que, de tanto haver situações anormais, elas acabaram se tornando mais do que esperadas.
Mesmo assim, embora aconteçam todo ano, as tragédias na região sempre pegam de surpresa as pessoas que têm a obrigação de lidar com elas. O Brasil precisa se acostumar à ideia de que nem só de terremotos, vulcões e tsunamis são feitas as catástrofes naturais e que as chuvas de verão também causam tragédias para as quais é sempre preciso estar preparado.
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