FOLHA DE SP - 24/02
Nossos "hermanos" argentinos decretaram congelamento de preços válido até 1º de abril. Um congelamento curto, com data para terminar, significa basicamente um mero adiamento do aumento de preços e incentivo à falta de produtos, porque fornecedor, comerciante e produtor, sabendo que os preços subirão no dia 2 de abril, terão incentivos para reter mercadorias, o que parece já ocorrer.
É um filme que brasileiros, argentinos e muitos dos nossos outros irmãos latino-americanos conhecemos bem. Já tivemos vários congelamentos, todos fracassados, com a inflação voltando depois mais forte do que antes. Incrível que seja tentado novamente, dado esse histórico de fracassos.
A metodologia para o combate da inflação evoluiu muito. Na década de 1970, desenvolveu-se a teoria monetarista, baseada na definição de uma meta para a quantidade de moeda em circulação, a chamada Meta de Agregados Monetários, na qual o Banco Central procurava manter determinado volume de dinheiro em circulação. Maior quantidade de moeda em circulação gera aumento de preço, e vice-versa.
Essa metodologia revelou-se parcialmente eficaz, mas tinha desvantagens importantes, como variação grande da taxa de juros e, mais tarde, variação grande da própria quantidade de dinheiro circulante, em função, principalmente, da criação das moedas eletrônicas que fugiam do controle do Banco Central.
Esse processo trouxe melhor entendimento da inflação e aperfeiçoamento do sistema. Eventualmente, levou ao estabelecimento, no final dos anos 1980, na Nova Zelândia, do sistema de metas de inflação. Uma meta intermediária, que era a meta de quantidade de moeda em circulação, foi trocada pela meta final, a inflação. E a taxa de juros foi consolidada como o instrumento mais eficiente dos bancos centrais para controlar a inflação. O objetivo: a inflação. O instrumento: a taxa de juros.
Havendo inflação acima da meta, o BC sobe juros e, por meio de diversos canais de comunicação (créditos, expectativas, câmbio etc.), a inflação recua. Havendo inflação abaixo da meta, o BC corta juros, aumentando a demanda e levando a inflação de volta à meta.
Esse sistema, cada vez mais aperfeiçoado e adotado por grande número de países, revelou-se o mais eficaz e o menos custoso contra a inflação, levando ao abandono gradual de outros mecanismos.
Mas, infelizmente, parece que nós latino-americanos muitas vezes fazemos questão de insistir no erro e tentar metodologias já suficientemente provadas em fracassos sistemáticos, como congelamentos ou controle de preços específicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário