FOLHA DE SP - 24/02
Início da campanha de 2014 deve impedir a presidente de mexer a sério na política econômica
A ESTA ALTURA do campeonato, parece difícil que Dilma Rousseff vá mudar sua política econômica. A campanha eleitoral começou.
Dilma foi lançada na festa da década petista. O tucano Aécio Neves acordou tarde dos seus sonhos intranquilos batendo no PT. Até Marina Silva ("Rede Sustentabilidade") e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), fizeram pré-temporada e passearam pela rinha eleitoral.
Em menos de ano e meio, estaremos na campanha em fogo alto. No tempo da economia, é uma piscadela. Mesmo as medidas mais corriqueiras e de curto prazo com o fim de colocar a casa em ordem podem derrubar a já medíocre perspectiva de crescimento de uns 3% neste ano. Logo, é improvável que a presidente vá bulir com o assunto.
Dilma, assombrada por dois anos de pibinho, está matando cachorro a grito para não aparecer no tapete vermelho da eleição vestida com um modelito fernandino de crescimento (isto é, o crescimento de pouco mais de 2% nos anos FHC). Parece muito ansiosa, mesmo que o povo ainda pareça bem contente com desemprego baixo, salários maiores e consumo crescente.
Estatista por formação, modas de época juvenil, costume e convicção, a presidente tem porém rasgado parte do seu figurino a fim de ressuscitar o investimento mofino. Privatiza, concede a empresas, relaxa regras de editais e, agora, pretende mesmo emprestar dinheiro a juros subsidiados para bancos privados financiarem as empresas que vão levar os negócios de infraestrutura de transporte.
No entanto, a presidente não parece inclinada a dar um trato mais racional e organizado nos desequilíbrios macroeconômicos que ajudam a atrapalhar o crescimento de curto prazo. Talvez o BC tenha de dar um tapa na pantera, ou no dragão, e elevar os juros, o que o mercado já está "colocando no preço".
A inflação sobe, embora não esteja (ainda) destrambelhada, mas ainda assim o governo gasta mais e põe dinheiro nos bancos estatais. O deficit externo sobe (diferença entre o que exportamos e importamos). Temos obviamente um problema de alta de custos de produção e aumento lerdo da eficiência.
Sim, Dilma reduziu impostos sobre empresas, promete mais reduções neste ano; baixou o custo da energia elétrica. É um refresco. Tais providências, além do mais, devem impedir que a inflação ultrapasse o teto da meta (6,5%).
Mas é evidente que essa mistura esdrúxula de providências é precária e tem algo de enxugamento de gelo (estimular consumo por um lado, tentar controlar preços por outro). Não resolve o nosso problema básico de curto prazo: o consumo (tocado por mais salário, salário mínimo, gasto público) crescer mais rápido que a nossa capacidade de produzir a bom preço.
Providências de curto prazo (administração macroeconômica mais razoável) não virão por causa da eleição; as demais, mesmo que o governo resolvesse tratar do assunto, levam tempo. Ou seja, até 2014, quase tudo como dantes no quartel de abrantes. Algum investimento virá, dadas as privatizações e a melhora relativa e parca da taxa de crescimento. Ainda assim, vamos ficar mais dois anos sem mudanças importantes na economia. O futuro chegou, velho.
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