Mais do que simplesmente "desconfortável" com a inflação, como já admitira o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o governo Dilma está assustado. E vai reagindo de maneira confusa.
Nessa semana, por exemplo, colocou em marcha uma ofensiva orquestrada para tentar convencer os agentes do mercado futuro de juros e os remarcadores de preços - somente com a falação - de que "a inflação não saiu do controle".
Usaram para isso os microfones da hora: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, e o próprio Tombini. Os argumentos usados não passam firmeza - como se verá - e essa é a principal razão pela qual o governo Dilma dá sinais de não estar seguro sobre o que fazer.
Sexta-feira, o IBGE divulgou a evolução do IPCA-15 (veja gráfico ao lado), que é a mesma medida dos preços ao consumidor (custo de vida) em 30 dias, mas com período iniciado e terminado a cada dia 15. O que se viu foi o que já se esperava. A inflação anual, que uma quinzena antes estava nos 6,15%, subiu mais um pouco, para 6,18%. Mais do que isso, a desaceleração aparente tem a ver com a redução pontual das tarifas de energia elétrica (algo que não se repetirá); e a alta dos preços persiste muito espalhada, em mais de 70% dos itens que compõem a cesta de consumo avaliada.
O governo Dilma reluta em acionar o instrumento mais adequado para combater a alta: os juros básicos (Selic), hoje nos 7,25% ao ano. Diante da
atividade econômica estagnada, da inflação elevada e do investimento devagar-quase-parando, a derrubada dos juros se tornou um dos únicos troféus que pode ostentar.
O governo Dilma também não pode abusar da âncora cambial (baixa do dólar) para baratear os importados. Não quer acentuar ainda mais a baixa competitividade da indústria. E os mecanismos não convencionais, como a já mencionada redução das tarifas de energia elétrica e o congelamento dos preços dos combustíveis, deram o que tinham de dar.
A atuação verbal sobre as expectativas não foi convincente. A aposta de que a virada da inflação no segundo semestre é inevitável esbarra no consumo excessivo. O crescimento das vendas no varejo continua acima dos 8% em 12 meses, já descontada a inflação, e vai sendo propulsionado pelo crédito, que avança a 15% ao ano.
Trabalham também contra o controle da inflação a força da inércia (alta propensão às remarcações em toda a economia), a baixa disposição do governo de reduzir as despesas públicas e sua incapacidade de conter a disparada no setor de serviços.
As projeções oficiais de que a inflação cederá no segundo semestre não são inteiramente confiáveis. Apontar a força das safras agrícolas como fator de contenção dos preços, por exemplo, é despiste. A produção agrícola recorde se refere aos grãos, cujos preços são determinados em Chicago, não no Brasil. A atual disparada dos preços dos alimentos não está concentrada nos grãos, mas nos hortigranjeiros (tomate, cebola, cenoura, hortaliças e batata inglesa).
O reduzido crescimento global também não pode ser tomado como elemento estabilizador dos preços. Nos últimos 12 meses, a economia dos países ricos ficou estagnada e, no entanto, a inflação anual no Brasil saltou para acima do patamar de 6,00% ao ano. O que se espera para este ano é um avanço maior da economia mundial do que o de 2012.
Sexta-feira, Tombini declarou que o mercado de trabalho não está tão apertado e que vai contribuir para segurar a inflação. E, no entanto, o Banco Central há meses vem afirmando em seus documentos que o aquecimento excessivo do mercado de mão de obra é forte propulsor da inflação. E, se é verdade que o setor produtivo crescerá ao menos 3% neste ano, num ambiente de pleno emprego, fica difícil descartar sumariamente esse fator.
No mais, o Banco Central assumiu riscos demais e já não consegue coordenar as expectativas. E o governo vem atuando nos limites.
Com esse nível de consumo, mesmo uma inflação alta, de 5,5% ao final deste ano, como projeta o ministro Guido Mantega, é aposta de risco.
Nessa semana, por exemplo, colocou em marcha uma ofensiva orquestrada para tentar convencer os agentes do mercado futuro de juros e os remarcadores de preços - somente com a falação - de que "a inflação não saiu do controle".
Usaram para isso os microfones da hora: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, e o próprio Tombini. Os argumentos usados não passam firmeza - como se verá - e essa é a principal razão pela qual o governo Dilma dá sinais de não estar seguro sobre o que fazer.
Sexta-feira, o IBGE divulgou a evolução do IPCA-15 (veja gráfico ao lado), que é a mesma medida dos preços ao consumidor (custo de vida) em 30 dias, mas com período iniciado e terminado a cada dia 15. O que se viu foi o que já se esperava. A inflação anual, que uma quinzena antes estava nos 6,15%, subiu mais um pouco, para 6,18%. Mais do que isso, a desaceleração aparente tem a ver com a redução pontual das tarifas de energia elétrica (algo que não se repetirá); e a alta dos preços persiste muito espalhada, em mais de 70% dos itens que compõem a cesta de consumo avaliada.
O governo Dilma reluta em acionar o instrumento mais adequado para combater a alta: os juros básicos (Selic), hoje nos 7,25% ao ano. Diante da
atividade econômica estagnada, da inflação elevada e do investimento devagar-quase-parando, a derrubada dos juros se tornou um dos únicos troféus que pode ostentar.
O governo Dilma também não pode abusar da âncora cambial (baixa do dólar) para baratear os importados. Não quer acentuar ainda mais a baixa competitividade da indústria. E os mecanismos não convencionais, como a já mencionada redução das tarifas de energia elétrica e o congelamento dos preços dos combustíveis, deram o que tinham de dar.
A atuação verbal sobre as expectativas não foi convincente. A aposta de que a virada da inflação no segundo semestre é inevitável esbarra no consumo excessivo. O crescimento das vendas no varejo continua acima dos 8% em 12 meses, já descontada a inflação, e vai sendo propulsionado pelo crédito, que avança a 15% ao ano.
Trabalham também contra o controle da inflação a força da inércia (alta propensão às remarcações em toda a economia), a baixa disposição do governo de reduzir as despesas públicas e sua incapacidade de conter a disparada no setor de serviços.
As projeções oficiais de que a inflação cederá no segundo semestre não são inteiramente confiáveis. Apontar a força das safras agrícolas como fator de contenção dos preços, por exemplo, é despiste. A produção agrícola recorde se refere aos grãos, cujos preços são determinados em Chicago, não no Brasil. A atual disparada dos preços dos alimentos não está concentrada nos grãos, mas nos hortigranjeiros (tomate, cebola, cenoura, hortaliças e batata inglesa).
O reduzido crescimento global também não pode ser tomado como elemento estabilizador dos preços. Nos últimos 12 meses, a economia dos países ricos ficou estagnada e, no entanto, a inflação anual no Brasil saltou para acima do patamar de 6,00% ao ano. O que se espera para este ano é um avanço maior da economia mundial do que o de 2012.
Sexta-feira, Tombini declarou que o mercado de trabalho não está tão apertado e que vai contribuir para segurar a inflação. E, no entanto, o Banco Central há meses vem afirmando em seus documentos que o aquecimento excessivo do mercado de mão de obra é forte propulsor da inflação. E, se é verdade que o setor produtivo crescerá ao menos 3% neste ano, num ambiente de pleno emprego, fica difícil descartar sumariamente esse fator.
No mais, o Banco Central assumiu riscos demais e já não consegue coordenar as expectativas. E o governo vem atuando nos limites.
Com esse nível de consumo, mesmo uma inflação alta, de 5,5% ao final deste ano, como projeta o ministro Guido Mantega, é aposta de risco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário