Cena: festa de aniversário de criança. Dois pais lado a lado.
– Você é o pai da...
– Da Laura. Você?
– Do Miguel. Aquele ali com a espada, batendo na... Miguel! Não se bate assim nas pessoas. Pede desculpa!
– Nós não nos vimos no...?
– No aniversário da Luiza.
– Certo. Estou me lembrando. Bolo de chocolate com amêndoas.
– Isso. E sorvete de creme.
– Sou eu que sempre trago a Laurinha nos aniversários.
– Sua mulher já desistiu...
– Não. É que eu gosto.
– Sabe que eu também?
– São um inferno, claro. É preciso ter paciência. Mas tem seu lado bom.
– Exatamente. Eu... Miguel! Me dá aqui essa espada! Você ainda vai quebrar alguma coisa!
– Eu sou tarado por brigadeiro de aniversário.
– Eu também! Brigadeiro e guaraná morno, tem coisa melhor?
– Notei que você pega dois brigadeiros cada vez que passa a bandeja, mas não come. Põe de lado.
– Para comer depois dos cachorrinhos quentes. De tanto vir a festas de aniversário com o Miguel, desenvolvi uma técnica. Primeiro como os cachorrinhos quentes...
– Ou as empadinhas.
– Ou as empadinhas, ou os croquetes, e depois os brigadeiros.
Primeiro o salgado, depois o doce.
– O problema é que estas festas geralmente são desorganizadas. Servem os doces antes dos salgados. Não há nenhum critério. As crianças não ligam. A Laurinha não parou de comer brigadeiro desde que chegou. Ela é aquela ali, com o vestido marrom. Era branco quando ela saiu de casa, agora é marrom.
– Outra coisa. Só servem o bolo depois de cantarem o “parabéns a você” e assoprarem as velinhas.
– E nós aqui, namorando o bolo de longe. Do que você acha que esse é?
– Meu palpite é morangos com nata batida.
– Mmmmm...
– Mas vamos ter que esperar.
– Paciência...
– Olha, acho que estão vindo as empadinhas. E croquetes!
– Até que enfim...
– Miguel, desce daí!
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