Anunciado como se pudesse vir a ser o discurso do então desconhecido companheiro Obama na convenção democrata de 2000, o grito de guerra do senador Aécio Neves foi um pronunciamento pedestre. Suas críticas à década petista têm alguma procedência, mas terminam caindo na armadilha de quem tem muitas opiniões sem que elas formem um ponto de vista. Viu o futuro no retrovisor. Se a exibição das contradições morais, políticas e econômicas do comissariado levasse a algum lugar, Lula não teria sido reeleito, muito menos colocado os postes Dilma Rousseff no Planalto e Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo.
O tucanato continua encantado pela crença segundo a qual se uma pessoa ficar com duas vezes mais raiva do PT, terá direito a dois votos nas próximas eleições. Só a falta de assunto explica o fato de os tucanos terem caído numa finta petista, aceitando uma antecipação precoce e descosturada da sucessão presidencial do ano que vem.
Tome-se o espaço que o senador dedicou à Educação. Exatamente 21 palavras: "O governo herdou a universalização do ensino fundamental, mas foi incapaz de elevar o nível da qualidade na sala de aula". Médio. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, o Inep, em 2007 havia 7,1 milhões de crianças matriculadas na zona de mau ensino, com avaliações abaixo de 3,7 no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico. Em 2011, esse número baixou para 1,9 milhões. Há tucanos que fazem melhor? Em Minas Gerais, com certeza. Em Alagoas, não.
Do outro lado da mesa estão as políticas sociais do governo. Se a oposição admitir que algumas delas funcionam, todo mundo lucra, sobretudo ela. Dois exemplos: o desempenho escolar das crianças beneficiadas pelo Bolsa Família, e a discussão do estímulo à criação do turno único nas escolas.
A velha demofobia ensina que dar dinheiro a pobre é assistencialismo barato. No século XIX dizia-se que a abolição da escravatura estimularia o ócio e a embriaguez dos negros. Hoje há gente que acredita que o Bolsa Família remunera a preguiça da miséria e, como o ensino público é ruim, as crianças fogem das aulas ou, quando comparecem, não aprendem. É a ignorância a serviço da demo-fobia. Em 2011 a evasão escolar da meninada do programa no ensino básico da rede pública foi de 2,9%. Já a evasão no universo das escolas públicas, segundo o Censo Escolar, ficou em 3,2%. No desempenho, perderam de 86,3% a 83,9%. Indo-se para o ensino médio, a garotada do Bolsa Família fez melhor tanto no desempenho (79,9% x 75,2%) como na evasão (7,1x10,8%).
Enquanto a oposição mostra-se incapaz de erguer a bandeira do turno único, o governo correu atrás da expansão do tempo integral nas escolas onde a maioria dos alunos são beneficiados pelo Bolsa Família. Em 2010 havia 10 mil escolas públicas com esse regime. Nelas, só 2.869 (29%) tinham maioria de alunos cobertos pelo programa. Em 2012, as escolas com tempo integral triplicaram (32 mil) e 17.575 (54%) são frequentadas por crianças do Bolsa Família. Isso foi conseguido com recursos do Orçamento e parcerias com prefeitos. Nem um tostão federal foi gasto com tijolos, quadras de esporte ou salas para diretores. Muito menos com clipes publicitários ridículos.
E o mensalão? Pois é, pobre não sabe votar. Ou será que sabe, apesar do mensalão?
SUBIU NO TELHADO
A caciquia tucana deu-se conta de que a reeleição do governador paulista Geraldo Alckmin está subindo no telhado. O único alívio do PSDB está na rivalidade dos comissários Alexandre Padilha (Saúde) e Aloizio Mercadante (Educação) pela cadeira.
PISTA
A Comissão da Verdade dispõe de um prato cheio para conferir a atuação do consulado americano em São Paulo durante a ditadura. Estão na internet dezenas de telegramas do vice-cônsul Francis Lambert e do cônsul-geral Frederick Chapin. Um estava no posto em 1971, quando a ALN incendiou seu carro. Seus telegramas são um prodígio de mistificação, vendendo mentiras para encobrir a tortura. Chapin, que assumiu em 1972, virou o jogo, denunciando o porão. Ele foi mais longe: em 1976 procurou D. Paulo Evaristo Arns para informá-lo que se preparava algo contra o PCdoB. No dia seguinte deu-se o massacre da Lapa, numa operação em que foram assassinadas duas pessoas dentro de um aparelho.
VATICANÓLOGO
Os vaticanólogos são uma espécie que aparece às vésperas dos conclaves, acertam quando apostam no favorito (Bento XVI, Paulo VI ou Pio XII) e somem quando percebem que esqueceram de mencionar o cardeal escolhido (João Paulo II, João Paulo I e João XXIII). A sucessão de Bento XVI vitaminou em Pindorama um vaticanólogo que estava fora do noticiário desde 2003. É o empresário Giancarlo Nardi. Na sua primeira encarnação ele frequentou os autos da Operação Anaconda, que pegou o juiz Rocha Mattos e quitanda de venda de sentenças.
PIO XII E OS NEGROS QUE CHEGARIAM A ROMA
Fala-se muito na remota possibilidade de um papa africano ao mesmo tempo em que se acusa a Igreja Católica de não mudar. Vai aí um exagero, tanto em relação aos avanços ocorridos como em relação ao atraso em que andou o Papado. Em janeiro de 1944, quando as tropas aliadas estavam a caminho de Roma, o secretário de Estado, cardeal
Luigi Maglione, chamou ao Vaticano o embaixador inglês para transmitir-lhe um pedido de Pio XII. Segundo o telegrama que o diplomata mandou para Londres, Sua Santidade "esperava que não houvesse negros na pequena guarnição que permaneceria em Roma durante a ocupação".
A propaganda fascista apresentava os soldados americanos como macacos que saqueavam museus. O Papa estaria mais preocupado com casos de estupros praticados por negros, não necessariamente americanos. Tropas de todas as cores e nações estupraram mulheres na Europa, inclusive a FEB. Dois pracinhas violentaram uma menina de 15 anos e um deles matou-lhe o tio. Foram condenados à morte, voltaram para o Brasil e acabaram indultados. Quem viu "Duas Mulheres", de Vittorio De Sica, pode lembrar que Sophia Loren e sua filha foram violentadas por soldados marroquinos, africanos e negros. Não há documento capaz de informar se o pedido de Pio XII tramitou no comando aliado. Os negros americanos entraram em Roma, inclusive uma jornalista.
Tome-se o espaço que o senador dedicou à Educação. Exatamente 21 palavras: "O governo herdou a universalização do ensino fundamental, mas foi incapaz de elevar o nível da qualidade na sala de aula". Médio. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, o Inep, em 2007 havia 7,1 milhões de crianças matriculadas na zona de mau ensino, com avaliações abaixo de 3,7 no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico. Em 2011, esse número baixou para 1,9 milhões. Há tucanos que fazem melhor? Em Minas Gerais, com certeza. Em Alagoas, não.
Do outro lado da mesa estão as políticas sociais do governo. Se a oposição admitir que algumas delas funcionam, todo mundo lucra, sobretudo ela. Dois exemplos: o desempenho escolar das crianças beneficiadas pelo Bolsa Família, e a discussão do estímulo à criação do turno único nas escolas.
A velha demofobia ensina que dar dinheiro a pobre é assistencialismo barato. No século XIX dizia-se que a abolição da escravatura estimularia o ócio e a embriaguez dos negros. Hoje há gente que acredita que o Bolsa Família remunera a preguiça da miséria e, como o ensino público é ruim, as crianças fogem das aulas ou, quando comparecem, não aprendem. É a ignorância a serviço da demo-fobia. Em 2011 a evasão escolar da meninada do programa no ensino básico da rede pública foi de 2,9%. Já a evasão no universo das escolas públicas, segundo o Censo Escolar, ficou em 3,2%. No desempenho, perderam de 86,3% a 83,9%. Indo-se para o ensino médio, a garotada do Bolsa Família fez melhor tanto no desempenho (79,9% x 75,2%) como na evasão (7,1x10,8%).
Enquanto a oposição mostra-se incapaz de erguer a bandeira do turno único, o governo correu atrás da expansão do tempo integral nas escolas onde a maioria dos alunos são beneficiados pelo Bolsa Família. Em 2010 havia 10 mil escolas públicas com esse regime. Nelas, só 2.869 (29%) tinham maioria de alunos cobertos pelo programa. Em 2012, as escolas com tempo integral triplicaram (32 mil) e 17.575 (54%) são frequentadas por crianças do Bolsa Família. Isso foi conseguido com recursos do Orçamento e parcerias com prefeitos. Nem um tostão federal foi gasto com tijolos, quadras de esporte ou salas para diretores. Muito menos com clipes publicitários ridículos.
E o mensalão? Pois é, pobre não sabe votar. Ou será que sabe, apesar do mensalão?
SUBIU NO TELHADO
A caciquia tucana deu-se conta de que a reeleição do governador paulista Geraldo Alckmin está subindo no telhado. O único alívio do PSDB está na rivalidade dos comissários Alexandre Padilha (Saúde) e Aloizio Mercadante (Educação) pela cadeira.
PISTA
A Comissão da Verdade dispõe de um prato cheio para conferir a atuação do consulado americano em São Paulo durante a ditadura. Estão na internet dezenas de telegramas do vice-cônsul Francis Lambert e do cônsul-geral Frederick Chapin. Um estava no posto em 1971, quando a ALN incendiou seu carro. Seus telegramas são um prodígio de mistificação, vendendo mentiras para encobrir a tortura. Chapin, que assumiu em 1972, virou o jogo, denunciando o porão. Ele foi mais longe: em 1976 procurou D. Paulo Evaristo Arns para informá-lo que se preparava algo contra o PCdoB. No dia seguinte deu-se o massacre da Lapa, numa operação em que foram assassinadas duas pessoas dentro de um aparelho.
VATICANÓLOGO
Os vaticanólogos são uma espécie que aparece às vésperas dos conclaves, acertam quando apostam no favorito (Bento XVI, Paulo VI ou Pio XII) e somem quando percebem que esqueceram de mencionar o cardeal escolhido (João Paulo II, João Paulo I e João XXIII). A sucessão de Bento XVI vitaminou em Pindorama um vaticanólogo que estava fora do noticiário desde 2003. É o empresário Giancarlo Nardi. Na sua primeira encarnação ele frequentou os autos da Operação Anaconda, que pegou o juiz Rocha Mattos e quitanda de venda de sentenças.
PIO XII E OS NEGROS QUE CHEGARIAM A ROMA
Fala-se muito na remota possibilidade de um papa africano ao mesmo tempo em que se acusa a Igreja Católica de não mudar. Vai aí um exagero, tanto em relação aos avanços ocorridos como em relação ao atraso em que andou o Papado. Em janeiro de 1944, quando as tropas aliadas estavam a caminho de Roma, o secretário de Estado, cardeal
Luigi Maglione, chamou ao Vaticano o embaixador inglês para transmitir-lhe um pedido de Pio XII. Segundo o telegrama que o diplomata mandou para Londres, Sua Santidade "esperava que não houvesse negros na pequena guarnição que permaneceria em Roma durante a ocupação".
A propaganda fascista apresentava os soldados americanos como macacos que saqueavam museus. O Papa estaria mais preocupado com casos de estupros praticados por negros, não necessariamente americanos. Tropas de todas as cores e nações estupraram mulheres na Europa, inclusive a FEB. Dois pracinhas violentaram uma menina de 15 anos e um deles matou-lhe o tio. Foram condenados à morte, voltaram para o Brasil e acabaram indultados. Quem viu "Duas Mulheres", de Vittorio De Sica, pode lembrar que Sophia Loren e sua filha foram violentadas por soldados marroquinos, africanos e negros. Não há documento capaz de informar se o pedido de Pio XII tramitou no comando aliado. Os negros americanos entraram em Roma, inclusive uma jornalista.
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