segunda-feira, fevereiro 18, 2013

A confusa gestão macroeconômica - ALEXANDRE ESPÍRITO SANTO

BRASIL ECONÔMICO - 18/02

Pôncio Pilatos foi prefeito da Judéia, província romana, e participou do processo de julgamento de Jesus. Como não há contestação histórica desses episódios, Pilatos foi incluído na oração cristã conhecida como credo; uma forma de evidenciar a existência Dele, associando-a a local e tempo concretos. Resumidamente, essa seria uma explicação para a expressão “como Pilatos no credo”.

Faz tempo que procuro entendimento plausível para a permanência do sistema de metas de inflação na política econômica do governo Dilma. Oficialmente, ela continua.

Todavia, empiricamente, as evidências estão rareando, sobretudo se tomarmos por base a atuação do Banco Central do Brasil (BC). Neste momento, o IPCA encontra-se perto do teto da meta de 6,5% e não há consenso entre os analistas que a Selic possa subir no curto prazo, com intuito de fazê-lo convergir para o centro de 4,5%. Pelo contrário, a maioria acredita que somente no final do ano a autoridade monetária venha atuar. Poderá ser tarde...

Teoricamente, num sistema de metas de inflação, o objetivo da política econômica é o índice definido e ponto. Não quero entrar no mérito se o sistema é bom ou não, isso demandaria um artigo específico, com seus prós e contras.

Meu argumento de análise aqui é que, ao não privilegiá-la na gestão macroeconômica, o governo passa ao mercado uma sinalização dúbia. Tudo se agrava, na medida em que há uma nítida impressão que, atualmente, há um mix de metas informais (crescimento do PIB, taxa de câmbio e superávit fiscal) e uma formal (IPCA).

Um dos principais problemas decorrentes dessa gestão confusa (que afugenta investimentos privados) é que para transformar os pibinhos de 2011 e 2012 em um PIB aceitável, o governo faz uso de uma ferramenta pouco recomendável: a maquiagem contábil.

A meta de superávit primário vem sofrendo uma transformação cinematográfica. Na verdade, o que teremos é uma figura em torno de 1,8% do PIB, enquanto a meta oficial é acima de 3%.

Comungo com o entendimento do BC de que as pressões inflacionárias devem ceder nos próximos meses. Há boa probabilidade de colhermos uma bela safra agrícola, bem como os preços internacionais dos alimentos devem cair.

Entretanto, não se pode afiançar tal expectativa, bem como fica difícil garantir que os preços dos serviços irão desacelerar do alto dos seus resilientes 8% ao ano. Lembremo-nos que um banco central não deve assumir uma postura de torcedor, ou mesmo de jogador, que faz apostas arriscadas.

Não creio que a Selic suba agora, como recomendável. Seria de bom tom que o Banco Central assim procedesse, mas explicitaria uma incoerência com o crescimento do PIB que a presidente tanto se preocupa. A administração da inflação está, de fato, por conta da "flutuação administrada" da taxa de câmbio, das desonerações fiscais e do controle das tarifas públicas, que representam 30% do IPCA.

Como escrevi em janeiro neste espaço, permaneço confiante em PIB de 3% neste ano. Todavia, o sistema de metas no Brasil está como Pilatos no credo, o que põe a credibilidade da política econômica em xeque e nos deixa apreensivos com o futuro.

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