domingo, janeiro 27, 2013

Revisão de agenda - CELSO MING

O ESTADO DE S. PAULO - 27/01
O Banco Central devolveu a bola para o governo federal. Na Atado Copom divulgada quinta-feira passou o recado de que o problema da economia brasileira não é falta de consumo; é falta de oferta, que não se resolve com mais afrouxamento monetário (política de juros). Esta é tarefa do governo; não do Banco Central.
Falta saber se esse diagnóstico é partilhado pelo resto do governo Dilma, especialmente pelas autoridades do Ministério da Fazenda, os turbinadores do consumo. Mesmo se não for, é necessário ainda verificar que pauzinhos o governo Dilma poderia mexer para reaquecer a oferta de bens e serviços, que continua exasperadamente modorrenta.

Antes de verificar quais políticas podem ser acionadas pelo governo para garantir um PIB mais alentado em 2013 e 2014, é preciso sublinhar que o Banco Central se recusa a desempenhar dupla função: a de combater a inflação e, ao mesmo tempo, a de garantir o aumento do emprego e da produção. E isso contraria o que têm pedido setores importantes do governo federal. (Não faz mesmo sentido tentar engajar o Banco Central num projeto de ampliação de postos de trabalho, num ambiente que já é de pleno emprego.)

O Banco Central adverte para a necessidade de restabelecer a confiança (parágrafo 26 da Ata) com o que fica admitido que não há confiança suficiente na condução da política econômica e que isso emperra o setor produtivo.

Em termos gerais, o roteiro é o mesmo dos SSS apontados pela presidente Dilma no dia 18, em São Julião, Piauí: é garantir "crescimento sério, sustentável e sistemático". Como se faz isso é que são elas...

A primeira coisa é passar a firmeza de que o governo vai controlar suas finanças com rédea curta. Despesas soltas demais, como aconteceu em 2012, não passam firmeza. Somente puxam o consumo, que aquece demais a economia, produz inflação e puxa as importações. Nessas condições, o investidor se retrai por que identifica na inflação e na alta dos seus custos sintomas de deterioração dos fundamentos da economia.

As autoridades da área da Fazenda vêm agindo e recomendando o contrário. Querem aumento das despesas públicas para que operem como "política anticíclica". No entanto, não está funcionando a atual estratégia, de complementar uma política fiscal expansionista (mais despesas), com boa dose de paciência até que chegue a tão esperada virada do jogo.

A presidente Dilma terá agora de bater o martelo sobre o caminho a seguir: se aceita a nova recomendação do Banco Central ou se continua a fazer o jogo de sua equipe de desenvolvimentistas, que, além de não entregar o PIB vigoroso insistentemente prometido, ainda propõe mais consumo, que cria mais inflação.

Apenas austeridade fiscal é pouco. Não basta intensificar o plano de concessões em portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, energia elétrica e petróleo. Será preciso convencer. E o convencimento passa pela implantação de nova agenda: recomposição da capacidade de produção da Petrobrás; retirada das restrições ao investimento estrangeiro; remoção da burocracia que bloqueia a rápida imigração de mão de obra especializada e a retomada das reformas: tributária, das leis trabalhistas e reforma do Judiciário. A ver.

Otimismo

Na economia internacional, paira no ar inesperado otimismo. Há uma clara melhora do mercado imobiliário nos Estados Unidos, onde a crise começou. E, na área do euro, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, prevê recuperação ainda no segundo semestre deste ano. Falta saber quando os problemas de fundo serão revertidos.

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