REVISTA ÉPOCA
E se ficar provado que existem aliens? Tudo bem se não passarem de uns micróbios esquisitos ou de besouros gosmentos, mas e se forem inteligentes, telepatas e dotados de poderes sobrenaturais? E se forem numerosos, se existirem aos trilhões, em multidões incontáveis? E se baixarem por aqui? E se for noticiado que já perambulam pelo planeta a que chamamos nosso há milênios? E se os deuses forem mesmo astronautas? O que você vai fazer? O que os governantes poderão fazer?
Indagações assim, que até o ano passado animavam apenas as revistas dedicadas à ufologia e os filmes de ficção científica com plateias lotadas de adolescentes de todas as idades, agora figuram no rol dos assuntos oficiais. Aterrissaram de vez na agenda do pessoal que os milionários, os políticos, os cientistas e os economistas do planeta costumam levar super a sério: os organizadores do Fórum Econômico Mundial.
Não que os diretores do Fórum tenham passado a acreditar em discos voadores, assim sem mais, como outros acreditam em duendes. Não é bem isso. É pior. Eles não profetizam a vinda de discos voadores tripulados por conquistadores indestrutíveis, mas declararam que, mais cedo ou mais tarde, quer dizer, provavelmente mais cedo que mais tarde, confirmaremos cientificamente a existência de organismos extraterrestres - e que isso gerará uma confusão não necessariamente dos diabos, mas no mínimo uma confusão do outro mundo. Ou dos outros mundos. As religiões atuais entrarão em parafuso.
Dias antes da realização de seu 43- encontro do Fórum Econômico Mundial, que aconteceu na semana passada, em Davos, na Suíça, a entidade que anualmente reúne os poderosos da Terra divulgou em seu site oficial um documento sobre o que chama de "Fatores X". A expressão "Fatores X" lembra outra, "Arquivo X". Como você bem sabe,"Arquivo X"era o título de um seriado sobre alienígenas do mal, que há poucos anos fez um sucesso interestelar nos televisores de todos os continentes. Mas, além da letra X e dos ETs, os "Fatores X" não têm quase nada em comum com "Arquivo X". O Fórum não faz ficção científica: está falando de ciência ortodoxa, convencional, careta. Para a elaboração do relatório sobre os "Fatores X", contou com o apoio mais que rigoroso da revista Nature, uma das catedrais do pensamento cético-científico deste mundo. Os "Fatores X" são fatores críticos, desafios globais de grande porte que trazem riscos para a humanidade. Além da provável confirmação da existência de vida em outros planetas, constam da lista outros quatro "Fatores X": a potencialização do cérebro por meio de estimulantes químicos ou eletrônicos (numa revolução que traz o risco da fabricação de super-humanos, capazes de dominar os demais), as mudanças climáticas que ninguém sabe direito aonde vão parar, o emprego desordenado de tecnologias para conter essas mudanças climáticas (com conseqüências ainda mais nocivas) e os custos elevados gerados pelo prolongamento da expectativa de vida dos atuais habitantes do globo terrestre.
Dos cinco, o mais desconfortável, que foge ao controle das instituições terrestres, é mesmo esse que trata dos aliens. Uma inteligência vinda de outra galáxia pode representar a sentença de morte do Homo sapiens - ou a inauguração de uma nova e suprema ordem mística que porá de joelhos toda a espécie, o que dá no mesmo. A razão humana tem notória dificuldade de se medir com ETs. Só o que conseguimos, por enquanto, intuir é que, se representantes de uma civilização extraterrestre avançadíssima ocupassem um pequeno pedaço da Terra, por menor que fosse, podia ser o arquipélago de Fernando de Noronha ou o município de Nuporanga, poriam um fim imediato na ordem mundial. As autoridades sucumbiriam à superioridade dos invasores. Cairiam como caiu Moctezuma sob Cortez, como indígenas amazônicos sob o vírus da gripe, como uma saúva no asfalto sob o pneu de um caminhão.
O cenário é integralmente nonsense, mas, na opinião do Fórum Econômico Mundial, precisamos começar a nos preparar.
No ano longínquo de 1978, alguns muros da cidade de São Paulo amanheciam carimbados por uma curiosa pichação. Ao lado da figura de um homem de perfil, com uma cartola de burguês atravessada de cima a baixo por um raio fulminante, lia-se a inscrição: "Rendam-se, terráqueo$!". Os quatro estudantes de jornalismo que inventaram aquela travessura - Paulo Zocchi, Celso Pucci, Alex Antunes e Renato Cosentino - queriam dar um susto nos capitalistas. Não conseguiram. Agora, em 2013, o Fórum de Davos tentou pregar o mesmo susto. Vamos ver o que acontece.
Indagações assim, que até o ano passado animavam apenas as revistas dedicadas à ufologia e os filmes de ficção científica com plateias lotadas de adolescentes de todas as idades, agora figuram no rol dos assuntos oficiais. Aterrissaram de vez na agenda do pessoal que os milionários, os políticos, os cientistas e os economistas do planeta costumam levar super a sério: os organizadores do Fórum Econômico Mundial.
Não que os diretores do Fórum tenham passado a acreditar em discos voadores, assim sem mais, como outros acreditam em duendes. Não é bem isso. É pior. Eles não profetizam a vinda de discos voadores tripulados por conquistadores indestrutíveis, mas declararam que, mais cedo ou mais tarde, quer dizer, provavelmente mais cedo que mais tarde, confirmaremos cientificamente a existência de organismos extraterrestres - e que isso gerará uma confusão não necessariamente dos diabos, mas no mínimo uma confusão do outro mundo. Ou dos outros mundos. As religiões atuais entrarão em parafuso.
Dias antes da realização de seu 43- encontro do Fórum Econômico Mundial, que aconteceu na semana passada, em Davos, na Suíça, a entidade que anualmente reúne os poderosos da Terra divulgou em seu site oficial um documento sobre o que chama de "Fatores X". A expressão "Fatores X" lembra outra, "Arquivo X". Como você bem sabe,"Arquivo X"era o título de um seriado sobre alienígenas do mal, que há poucos anos fez um sucesso interestelar nos televisores de todos os continentes. Mas, além da letra X e dos ETs, os "Fatores X" não têm quase nada em comum com "Arquivo X". O Fórum não faz ficção científica: está falando de ciência ortodoxa, convencional, careta. Para a elaboração do relatório sobre os "Fatores X", contou com o apoio mais que rigoroso da revista Nature, uma das catedrais do pensamento cético-científico deste mundo. Os "Fatores X" são fatores críticos, desafios globais de grande porte que trazem riscos para a humanidade. Além da provável confirmação da existência de vida em outros planetas, constam da lista outros quatro "Fatores X": a potencialização do cérebro por meio de estimulantes químicos ou eletrônicos (numa revolução que traz o risco da fabricação de super-humanos, capazes de dominar os demais), as mudanças climáticas que ninguém sabe direito aonde vão parar, o emprego desordenado de tecnologias para conter essas mudanças climáticas (com conseqüências ainda mais nocivas) e os custos elevados gerados pelo prolongamento da expectativa de vida dos atuais habitantes do globo terrestre.
Dos cinco, o mais desconfortável, que foge ao controle das instituições terrestres, é mesmo esse que trata dos aliens. Uma inteligência vinda de outra galáxia pode representar a sentença de morte do Homo sapiens - ou a inauguração de uma nova e suprema ordem mística que porá de joelhos toda a espécie, o que dá no mesmo. A razão humana tem notória dificuldade de se medir com ETs. Só o que conseguimos, por enquanto, intuir é que, se representantes de uma civilização extraterrestre avançadíssima ocupassem um pequeno pedaço da Terra, por menor que fosse, podia ser o arquipélago de Fernando de Noronha ou o município de Nuporanga, poriam um fim imediato na ordem mundial. As autoridades sucumbiriam à superioridade dos invasores. Cairiam como caiu Moctezuma sob Cortez, como indígenas amazônicos sob o vírus da gripe, como uma saúva no asfalto sob o pneu de um caminhão.
O cenário é integralmente nonsense, mas, na opinião do Fórum Econômico Mundial, precisamos começar a nos preparar.
No ano longínquo de 1978, alguns muros da cidade de São Paulo amanheciam carimbados por uma curiosa pichação. Ao lado da figura de um homem de perfil, com uma cartola de burguês atravessada de cima a baixo por um raio fulminante, lia-se a inscrição: "Rendam-se, terráqueo$!". Os quatro estudantes de jornalismo que inventaram aquela travessura - Paulo Zocchi, Celso Pucci, Alex Antunes e Renato Cosentino - queriam dar um susto nos capitalistas. Não conseguiram. Agora, em 2013, o Fórum de Davos tentou pregar o mesmo susto. Vamos ver o que acontece.
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