RIO DE JANEIRO - Um amigo que muito preza V. Sa., que vela por sua reputação, não podendo calar sua voz nesse momento em que a desonra se abate sobre seu lar, vem, por meio desta, chamar a atenção de V. Sa. para determinados fatos que não podem permanecer na ignorância do principal interessado. É dever de um amigo consciencioso e fiel (que não assina a presente a fim de que sua ação fique oculta e sem glorificação) avisá-lo do que se passa.
Trata-se do procedimento abominável de sua mulher. Como seu amigo, eu devia considerá-la como as grandes matronas da história e da lenda, como a casta Suzana, como a mulher de Ulisses, como a mulher forte das Escrituras.
Tal consideração só redobra a responsabilidade desse aviso leal. Pois sua complacência tem-lhe fechado os olhos sobre fatos que todos comentam. Sua mulher vai, dia sim, dia não, a misterioso dentista que nunca termina o tratamento. E, além do dentista, há outros compromissos sempre nos mesmos horários e no mesmo local: a cidade -nome vago que denomina pecado e traição.
Tais circunstâncias têm passado despercebidas aos benevolentes olhos de V. Sa., mas os olhos da turba não são benevolentes, justificando o que se rosna com frequência acerca de seu lar. Chegam a insinuar que a abastança de que goza V. Sa., em vez do seu modesto emprego municipal, provém da bolsa de sua mulher, sempre provida -pasme!- por um dentista certamente imaginário!
Acreditamos que este aviso bastará, despertando sua complacência um tanto exagerada. Não queremos nem devemos adiantar nomes, locais, horários e datas. Mas, se a tanto formos obrigados pela obstinação de uma Bovary desgarrada no Catumbi, voltaremos ao assunto, pois a honra de V. Sa. estará sempre sob a fiel e zelosa proteção de "um amigo desinteressado".
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