O GLOBO - 31/01
Os gastos de custeio do governo federal continuaram se expandindo de forma indesejável durante o ano de 2012, para o qual já se esperava frustração nas receitas
O Brasil não foi sugado pela crise que se abateu sobre várias economias importantes do planeta e isso chegou a atrair a atenção dos meios econômicos e dos mercados que influenciam diretamente a decisão de investidores pelo mundo afora. Mas, desde o ano passado, a economia brasileira passou a figurar nas manchetes negativas de renomados veículos especializados em finanças. Na reunião do Forum Econômico Mundial, que se realiza em Davos, na Suíça, foram poucas as menções à economia brasileira, e nem sempre abonadoras.
Tal mudança de humor pode estar refletindo a perda de dinamismo que se observou nos últimos dois anos. E certamente contribuiu para isso uma série de decisões tomadas pelo governo, começando pela equivocada alteração do modelo de concessões para exploração e produção de petróleo em novas áreas. Hoje, a percepção dos mercados é que tem havido um desmonte nos pilares que sustentaram o processo de ajuste da economia brasileira.
Para recuperar dinamismo, a economia brasileira depende agora de um incremento substancial nos investimentos. E para isso, os investidores precisam ter confiança no futuro. Na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central deixou claro que pouco pode fazer agora para controlar a inflação pelo lado da demanda, pois, em sua análise, as deficiências de oferta respondem por grande parte da alta de preços.
Essas deficiências de oferta estão relacionadas a investimentos de menos tanto na cadeia produtiva como na infraestrutura, na qual a participação do setor público ainda se faz necessária, até porque o governo só aos poucos retoma os programas de concessões no segmento de transportes, por exemplo.
A julgar pelo comportamento das contas federais no ano passado, o governo não tem conseguido priorizar os investimentos como deveria. Os gastos com custeio do governo central continuaram aumentando mais do que recomendado para um ano em que a arrecadação enfraqueceu, seja pela queda de ritmo da atividade econômica, seja pelo impacto imediato de uma série de desonerações tributárias. Enquanto os gastos se expandiram em 11%, as receitas avançaram 6%.
São fatos como esses que desgastam a imagem da política econômica. E para agravar esse quadro, o governo recorreu a uma conta de chegar, no apagar das luzes do exercício fiscal, para que o resultado de 2012 se aproximasse das metas inicialmente propostas para 2012.
Espera-se que em 2013 essa experiência frustrante não se repita, e que o governo verdadeiramente priorize os investimentos e controle de fato os gastos de custeio. Sem isso, a imagem da política econômica continuará se desgastando, o que não é nada bom para o país. Pessimismo de investidores hoje é garantia de mais problemas no futuro.
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