O reajuste dos preços da gasolina e do óleo diesel não muda substancialmente as coisas. A Petrobrás segue arrochada pelo governo Dilma.
Os cálculos sobre as perdas com o atraso dos reajustes variam de um consultor para o outro. Mas, provavelmente, apenas em 2012, ultrapassaram os R$ 20 bilhões. Em vez de fazer da Petrobrás uma alavanca do desenvolvimento nacional, o governo Dilma continua usando o caixa da empresa para fazer política de preços. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu ontem que, desde 2006, os combustíveis foram reajustados em apenas 6% - "o que é menos do que a inflação", disse.
Tanto a Petrobrás, hoje dirigida por administradores fiéis à aliança de governo, como o próprio governo vêm repetindo que a política "busca alinhar o preço dos derivados aos valores praticados no mercado internacional em uma perspectiva de médio e longo prazos" - está assim no comunicado da Petrobrás divulgado na noite de terça-feira. Trata-se de repetição vazia, uma vez que não há critério. Os reajustes não obedecem a nenhuma regra e só são feitos quando a capacidade de geração de recursos da Petrobrás apresenta notórios sinais de deterioração. A qualquer momento, por exemplo, se espera o rebaixamento da qualidade dos títulos da Petrobrás. Sua capacidade de endividamento foi e continua sendo duramente atingida. Se houver melhora mínima nas condições da economia global, como se espera, as cotações do barril do petróleo Brent saltarão para acima dos US$ 115 por barril, nível em que estão hoje, e as distorções se ampliarão.
Essa política não está errada apenas porque dá um tratamento populista para os derivados de petróleo. Está errada, principalmente, porque sabota a política de investimentos da Petrobrás aprovada pelo próprio governo federal.
Há seis meses, a Petrobrás avisou em seus documentos que seu Plano de Negócios (investimentos), de US$ 236,5 bilhões até 2016, só poderia ser cumprido caso houvesse reajuste de 15% em seus produtos. Foram autorizados apenas 6,6% para a gasolina e 5,4% para o óleo diesel, acompanhados pelo aviso de que não haveria outros em 2013. São reajustes de longe insuficientes para recompor as perdas passadas da Petrobrás. Pelos cálculos dos analistas Bruno Montanari e Guilherme Bellinetti, do Grupo Morgan Stanley, ouvidos pela Agência Estado, mesmo com essa correção, os preços internos em relação aos pagos pela Petrobrás nas suas importações ficarão cerca de 10% mais baixos, no caso da gasolina, e de 20%, no do diesel.
Além disso, a gasolina se manterá subsidiada à custa da saúde financeira da Petrobrás. Preços assim vantajosos no varejo continuarão estimulando o consumo de gasolina, pressionando importações e deteriorando a capacidade de investimentos da Petrobrás. Ao mesmo tempo, os preços artificiais da gasolina seguirão achatando os preços do etanol e desestimulando investimentos em cana-de-açúcar e na expansão das destilarias.
Ontem, o mercado financeiro voltou a punir as ações da Petrobrás como forma de mostrar a política irracional a que está sendo submetida. As ações ordinárias caíram 5,12% e as preferenciais, 4,76%.
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