quinta-feira, janeiro 31, 2013
Combustíveis para crise - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 31/01
Com os aumentos de 6,6% para a gasolina e de 5,4% para o diesel, o governo piorou as perspectivas de inflação sem resolver o problema de caixa da Petrobrás. Ontem de manhã, as ações ordinárias da estatal caíram 4,5% na Bolsa de Valores de São Paulo, porque os investidores logo perceberam a insuficiência do aumento. As perdas da empresa passarão de cerca de R$ 2 bilhões por mês para cerca de R$ 1,2 bilhão, porque os valores serão insuficientes para eliminar o desajuste acumulado.
Ao mesmo tempo, especialistas começaram a calcular o impacto inflacionário dos novos preços e a confrontá-lo com o provável benefício da redução das contas de eletricidade. Para o consumidor, o resultado será um empate, segundo o economista Salomão Quadros, um dos responsáveis pela área de índices da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A resultante dos dois efeitos, positivo e negativo, será de aproximadamente 0,2 ponto porcentual e sua influência combinada nos índices de preços ao consumidor será praticamente nula.
A tentativa de atenuar o impacto do aumento dos combustíveis afetará as contas públicas. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, confirmou ontem o compromisso, acertado há semanas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de manter as tarifas de ônibus sem reajuste até junho. O governador de São Paulo havia prometido adiar a elevação dos bilhetes de metrô. Autoridades federais haviam pedido ajuda também aos governos carioca e fluminense. Além disso, a própria administração federal será duplamente afetada pela manutenção dos subsídios ao consumo de combustíveis - pelo custo da operação e pelo atraso da agenda energética, por causa da perda de capacidade financeira da Petrobrás.
Mais uma vez, portanto, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros da área econômica embolam objetivos e instrumentos de política e agravam os problemas do próprio governo. Ao insistir nesse caminho, as autoridades negam o próprio discurso, prolongando e agravando a disparidade entre ações e palavras.
Ainda ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou o uso do câmbio no combate à inflação. Só a política monetária é adequada para conter a alta de preços, disse o ministro, mencionando como exemplo os juros e referindo-se genericamente a outros mecanismos do Banco Central (como alteração dos depósitos compulsórios e outras medidas para regulação da oferta de dinheiro). Poderia ter acrescentado a austeridade fiscal como fator favorável à estabilidade de preços. A afirmação sobre o papel da política monetária é sensata, mas as palavras sobre a atuação efetiva das autoridades são obviamente falsas.
Em vez de combater a inflação pelos meios adequados, a presidente e seus ministros tentam administrar os índices, adiando politicamente os aumentos de preços dos combustíveis, pedindo ajuda a governos estaduais e municipais para adiar o ajuste de tarifas e reduzindo de forma voluntarista a conta de luz, sem levar em conta as necessidades financeiras da Petrobrás, da Eletrobrás e de outras empresas do setor energético.
Não se trata de defender a lucratividade dessas empresas, mas de levar em conta os custos efetivos e as necessidades de investimento para destravar uma economia emperrada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prejudicou a saúde financeira da Petrobrás e sua capacidade de elaboração e de execução de projetos ao usá-la em benefício de sua imagem popular e de seu prestígio internacional. Também comprometeu a gestão do setor elétrico loteando seus postos mais importantes e liquidando os restos de sua capacidade de planejamento. Os apagões e miniapagões frequentes são parte da herança maldita deixada na área da infraestrutura.
A presidente Dilma Rousseff mostrou-se consciente dos danos causados à Petrobrás por seu antecessor. Mas é incapaz de renegar essa herança e de mudar de rumo, porque ela mesma carrega o vírus do populismo voluntarista. São características evidenciadas quando ela controla os preços dos combustíveis, barateia bens duráveis pela redução temporária de impostos e, ao mesmo tempo, força a baixa dos juros.
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