FOLHA DE SP - 07/01
SÃO PAULO - Alunos de 14 anos da rede pública municipal de São Paulo calculam como crianças de 11, nada além disso. Esses estudantes avançam para o ensino médio, o antigo colegial, fase em que o atraso no conhecimento só faz aumentar.
Não é de estranhar que essa clientela esteja em desvantagem para disputar seja os vestibulares mais concorridos das universidades, seja as vagas mais bem remuneradas do mercado de trabalho.
Como ocorreu com seus pais, esses jovens vão ocupar a base da pirâmide de renda. A base veio ficando menos distante do topo nos últimos anos, graças ao aumento dos brasileiros que completam o ensino médio e -muitas vezes mais próximos dos 30 que dos 20- a faculdade.
Mas nada disso altera o status esperado da criança de seis anos que terá de enfrentar 12 anos de ensino básico público.
As cotas em universidades públicas mudarão o destino de poucos -na hipótese, a ser provada, de que essas instituições mantenham seu prestígio no mercado de trabalho. O sistema universitário estatal não tem a escala do problema. Para cada aluno da rede pública beneficiado pela cota, outros nove ficarão de fora.
O debate das cotas, aliás, arrasta por vezes uma premissa equivocada. Não cabe à universidade, pública ou privada, corrigir os problemas acumulados nos ciclos anteriores. Da mesma forma, o ensino médio não deveria saldar a conta do atraso de nove anos da escola fundamental.
Não se faz mágica com aprendizado. O avanço formal -os diplomas e as formaturas acumuladas, o aumento dos anos que o brasileiro passa na escola- já entregou praticamente tudo o que poderia em termos de mitigação da desigualdade social.
Administradores incapazes de analisar um balanço, engenheiros ignorantes em álgebra elementar e advogados semiletrados não vão longe. E não impulsionarão o desenvolvimento do país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário