FOLHA DE SP - 08/01
Diferença entre exportações e importações tem pior saldo desde 2002; resultado ruim é fruto de deficiências internas, além da crise global
A balança comercial brasileira teve em 2012 seu pior resultado em dez anos. A diferença entre as exportações e as importações foi de US$ 19,4 bilhões, redução de quase 35% em relação aos US$ 29,7 bilhões obtidos em 2011.
O desempenho ruim está diretamente relacionado com a desaceleração da economia mundial. O Brasil exportou um total de US$ 242,6 bilhões, 5,3% a menos que no ano anterior. Preços menores de commodities, especialmente do minério de ferro, e a recessão europeia explicam boa parte do recuo.
Outros destaques negativos foram as vendas para a China -principal parceira comercial do Brasil-, que diminuíram 7%, e para a Argentina -ainda um grande destino de manufaturados brasileiros, apesar da deterioração de sua economia-, que absorveu 20,7% a menos do que em 2011.
O saldo só não foi pior porque as importações também caíram 1,4%, para US$ 223,1 bilhões. O crescimento do PIB de apenas 1% (contra os mais de 3% projetados no início do ano passado) limitou as compras brasileiras.
Para 2013 não se espera um saldo comercial muito melhor. De um lado, deve haver alguma retomada do crescimento global e dos preços das matérias-primas, impulsionando as exportações. A safra agrícola também promete ser boa -a última estimativa do IBGE indica alta superior a 5%. Por outro lado, o PIB brasileiro deve crescer cerca de 3%, elevando as importações.
Não são apenas as causas globais, contudo, as responsáveis pela estagnação do comércio brasileiro. Muitas amarras históricas que ainda prendem o país são "made in Brazil". A falta de inovação e de competitividade, por exemplo, mantém a pauta exportadora pouco diversificada e com baixo conteúdo tecnológico.
Além disso, a política comercial é pouco eficaz para aumentar a integração da economia brasileira nas cadeias globais de produção. Diversos países vêm estabelecendo acordos bilaterais ou regionais que formam teias mercantis cada vez mais complexas, mas o Brasil não participa desse movimento.
Por fim, o governo não tem uma estratégia para reverter o declínio do Mercosul, que se apaga em protecionismo pueril e na falta de compromisso com a integração.
Por razões sobretudo ideológicas, o Brasil aposta em nações problemáticas da América Latina (como Argentina e Venezuela), em vez de traçar uma agenda positiva com países que têm seguido melhor a rota do desenvolvimento, como Chile, México e Colômbia.
Não será apenas desvalorizando sua moeda que o Brasil dinamizará o comércio exterior. Nas modernas redes de produção, são os condicionantes internos de competitividade e o alinhamento estratégico entre governos e empresas, locais e multinacionais, que determinam onde ocorrerão os investimentos em setores de ponta.
Não se vê nem sombra desse tipo de debate no Brasil.
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