O consumidor quer energia a custo menor mas abundante, o que vai exigir do país soluções pragmáticas para prevenir uma cada vez mais uma possível crise numa área de infraestrutura indispensável para a retomada do desenvolvimento.
Dez dias depois de ironizar a possibilidade de uma crise energética no país, a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião emergencial de representantes do setor elétrico para amanhã, com o objetivo de debater alternativas aos baixos níveis dos reservatórios. Em entrevista concedida ontem, o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Ildo Grüdtner, descartou qualquer possibilidade de apagão, garantindo que as térmicas irão compensar a queda na geração hidráulica. A falta de planejamento e de fiscalização nessa área e a crônica descontinuidade na realização de algumas obras decisivas, porém, recomendam atenção reforçada, para evitar que o país volte a enfrentar um apagão nos investimentos por falta de energia elétrica.
A presidente da República tem razão ao declarar, como fez no final do último ano, que, quando o sistema cai por causa de um raio, "teve falha humana", e de pedir aos jornalistas que "gargalhem" diante desse tipo de desculpa. Tanto ao longo dos milhares de quilômetros de linhas de transmissão quanto nos canteiros de obras espalhados por todo o país, o que falta é justamente capacidade dos profissionais de enfrentar uma ameaça que só não preocupa mais neste momento pelo fato de a atividade produtiva estar em marcha lenta. Os problemas se avolumam porque, além de dispendiosos, os projetos nessa área exigem longo tempo de execução, passando de um governo para outro sem que nenhum deles seja cobrado sobre eventuais descumprimentos do cronograma e fazendo com que as responsabilidades se diluam.
Reportagem exibida no último domingo pelo Fantástico expôs uma rotina de descontrole nessa área, citando como um dos exemplos de incompetência gerencial a usina Jacuí I, no Rio Grande do Sul, que consumiu volumes incalculáveis de dinheiro público, passou por todos os presidentes do período democrático e segue inacabada, sem perspectiva de conclusão. O descalabro, que se espalha por todo o país, se deve a razões que vão de erros de planejamento e do próprio projeto a atrasos na entrega dos equipamentos, com prejuízos que acabam sempre sendo transferidos para o consumidor final, sobre a forma de escassez ou de custo elevado do serviço.
Recente decisão do governo federal demonstrou o quanto a questão é politizada, a ponto de a intenção de redução da tarifa, proposta pelo governo federal, ter sido rechaçada por Estados governados por políticos de oposição ao Planalto. O consumidor quer energia a custo menor mas abundante, o que vai exigir do país soluções pragmáticas para prevenir uma cada vez mais possível crise numa área de infraestrutura indispensável para a retomada do desenvolvimento. A imprevisão do passado gerou deformações com as quais os brasileiros não podem mais consentir e que o país precisa afastar a partir de reuniões como a de amanhã para voltar a expandir sua atividade econômica.
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