FOLHA DE DE SP - 10/01
Na ânsia de culpar as elites, governantes tratam empresários como mal necessário; assim, caem investimento e produção
No momento em que são fechados os números da economia brasileira relativos a 2012, nossos governantes mostram decepção com os resultados econômicos obtidos.
Nesse quadro de surpresa, devem estar se perguntando: como colhemos resultados tão fracos, se baixamos fortemente os juros; se desvalorizamos o câmbio e elevamos tarifas para melhorar a competitividade internacional de nossa indústria; se, generosamente, abrimos os cofres das instituições governamentais de crédito; se promovemos várias desonerações fiscais para setores importantes e se, ainda, prometemos substancial redução no custo da energia para o futuro próximo? Onde está o "espírito animal" dos empresários?
Dá para desconfiar que a resposta só será encontrada em outras esferas, fora do campo das variáveis habitualmente objeto de atenção no mundo econômico-financeiro. Afinal, a insegurança jurídica e o "fator ideológico" são elementos críticos na formação de expectativas empresariais pessimistas.
A verdade é que há, no governo atual, um ativismo descoordenado, que, ao impor mudanças bruscas nas regras do jogo, assusta e inibe o empresariado privado.
Este está disposto e sabe enfrentar o "risco mercado", mas, para quem não tem padrinhos políticos, não há como bem lidar com o "risco governo", implícito nas gritantes alterações no marco regulatório de setores fundamentais. Sem falar que está sendo minado o tripé: responsabilidade fiscal, metas de inflação e câmbio flexível, de tão bons serviços prestados ao país.
Na esfera jurídica, o que vemos é a tradicional colisão entre "direitos sociais" e o direito de propriedade, sendo o confronto quase sempre desempatado de forma contrária aos interesses do empresariado, notadamente quando a questão está afeta à Justiça do Trabalho.
Mas é na "pele e cheiro", tão decantada por sexólogos ao explicar o tesão, que reside o maior problema de relacionamento entre as partes. Com atos e palavras, nossos atuais governantes têm fustigado a classe empresarial tratando-a apenas como um mal necessário. Na ânsia de culpar as elites, seguidamente nossos homens de negócio são apresentados como sonegadores de impostos, exploradores da mão de obra e enganadores do consumidor.
Em manifestações culturais, cada vez mais influenciadas por dinheiros públicos, empresários são sempre mostrados como vilões, picaretas malvados. A sociedade, com isso, perde a noção da importância que os empreendedores têm como geradores de progresso e bem-estar e de que, de seu esforço produtivo, em última análise, é que são pagas as gordas contas governamentais.
Para completar o quadro, jovens, deslocando-se em multidões atrás de concursos públicos, parecem antever futuro promissor apenas na burocracia estatal, desprezando o risco empresarial.
Nesse clima de insegurança e rejeição, o empresário se retrai. E caem o investimento e a produção. Podemos e devemos ter um ano melhor em 2013. Mas, nada de espetacular será visto, enquanto permanecer o ambiente hostil para quem, ao investir e inovar, correndo riscos, é o verdadeiro motor do desenvolvimento.
Nos EUA, a assessoria de Bill Clinton cunhou a frase: "É a economia, estúpido!", para explicar o que realmente pesava nas decisões do eleitorado. Para aqueles que ainda estão intrigados com o nosso fraco desempenho econômico, podemos clamar em resposta: "É a psicologia (empresarial), estúpido!".
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