O GLOBO - 10/01
Dilma acerta ao decidir marcar fase final do governo com programa para dar eficiência à máquina pública. Os motivos para isso estão todos os dias no noticiário
Logo no início do mandato, a presidente Dilma criou a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, com a finalidade de atuar dentro do governo. O sugestivo nome já indicava o acerto das preocupações da presidente com a qualidade do funcionamento da máquina pública, e as esperanças de que, afinal, algo seria feito para elevar o baixo nível de eficiência administrativa no setor público federal, aumentaram com a revelação de quem comporia o organismo.
A experiência acumulada por Jorge Gerdau na siderurgia, Abílio Diniz no varejo, Antonio Maciel Neto em vários setores, do automobilístico ao de papel e celulose, e Philippe Reichstul na Petrobras, se de fato utilizada, poderia, e pode, fazer uma revolução na qualidade (baixa) do funcionamento da máquina oficial.
Mas o tempo passou sem notícias sobre ações neste árido campo da qualidade administrativa, um deserto quando se trata do governo federal. No sábado, porém, o GLOBO noticiou que Dilma deseja, na segunda metade do seu governo, perseguir, como prioridade, a eficiência de gestão, e, para isso, quer estabelecer metas objetivas para os ministérios, a serem acompanhadas a partir de uma série de indicadores.
O modelo é o de empresas privadas — há tempos seguidoras de métodos administrativos baseados em metas, avaliações, cobranças, bônus etc —, e teria, ainda, como fontes de inspiração a montagem e o acompanhamento dos planos quinquenais chineses. Descontado o fato de a China ser uma ditadura, há mesmo na administração pública chinesa um princípio que falta na brasileira: o prêmio e o respeito ao mérito. Não se sobe na estrutura de poder de Pequim sem qualificação. Já em Brasília...
Justificativas para a aplicação com urgência e afinco deste programa são abundantes, estão todos os dias na imprensa: falhas de planejamento no setor de energia elétrica, atrasos enormes na maioria das obras públicas, problemas de qualidade nelas, graves falhas de visão estratégica no petróleo, descalabros na saúde pública etc. Para reforçar suas convicções, a presidente pode pedir o depoimento de alguns governadores que já se utilizam dessas ferramentas com sucesso.
Se o programa for adiante, Dilma conseguirá algo inédito nestes dez anos de reinado petista em Brasília: mexer com interesses arraigados de corporações sindicais atuantes na máquina pública, ligadas ao partido, para as quais qualquer iniciativa que vise a buscar mais eficiência, em todos os sentidos, na administração oficial, é tachada de “neoliberal”. Como estas corporações chegaram ao poder, em Brasília, com Lula, em 2003, tudo que havia de projetos em andamento e a serem aplicados na direção do aprimoramento da qualidade de gestão foi engavetado.
A realidade da máquina estatal emperrada força o governo Dilma a tratar do assunto. Ela precisará ser firme para enfrentar os boicotes que virão.
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