O ESTADO DE S. PAULO - 25/01
Com resultados pouco animadores na economia, cresce a pressão para que Dilma Rousseff mude a sua política. Resta saber se ela optará pela convicção ou pelo pragmatismo.
Dilma realizou importantes mudanças: equiparou a aposentadoria dos novos servidores públicos à do setor privado, mudou a remuneração da poupança e fez concessão para o setor privado explorar o sistema de transportes. No entanto, a atual política econômica é equivocada nas suas duas principais frentes.
Na condução macroeconômica, não reconhece a impossibilidade de alcançar, simultaneamente, todos os objetivos desejados: câmbio desvalorizado, taxa de juros baixa, elevado crescimento econômico e inflação na meta. Parte de uma visão ingênua de que a política monetária pode gerar crescimento econômico sustentado ao ser combinada com tuna taxa de câmbio desvalorizada. O resultado é um cenário macroeconômico mais instável, gerando um ambiente menos convidativo ao investimento.
Na condução microeconômica, o governo ignora o básico: investidores não gostam de políticas discricionárias. São inúmeros os exemplos delas: aumento do IPI para os carros com baixo conteúdo nacional, escolha ad hoc de setores para receber isenções fiscais, desonerações trabalhistas, proteção tarifária e subsídios via BNDES e pressão para as empresas baixarem as tarifas de enérgicos investidores passam a se perguntar: "A próxima novidade será positiva ou negativa para os meus negócios?". Na dúvida, retraem-se ou aguardam um cenário menos instável para investir.
Pode parecer paradoxal que Dilma tenha popularidade tão elevada, superior à do próprio Lula no mesmo estágio do seu mandato, apesar da sua política econômica equivocada. Mas não é.
No curto prazo, ela traz dividendos políticos - e ainda é capaz de produzir uma combinação de taxa de desemprego baixa e inflação sob controle. Ao deixar de lado o centro da meta de inflação, o Banco Central (BC) encampou uma das bandeiras da administração Dilma de redução dos juros, o que contribui para a popularidade do governo. Difícil é o eleitor entender que, no futuro, caso se queira colocar a inflação novamente na meta, os juros terão de subir além do que seria necessário se a reputação do BC não estivesse cm xeque. Os eleitores agradecem a redução do custo da energia elétrica, mas dificilmente entendem que os investimentos no setor e a capacidade de produção futura estarão comprometidos. Políticas discricionárias são contraproducentes, mas passam a impressão de uma gestora atuante.
Os números já começam a sinalizar que a política da criatura Dilma é pior do que ado seu criador, Lula. A taxa de crescimento média do PIB no período Lula foi de 4,1%. Utilizando a expectativa do mercado para 2012/2013, a média do triênio de Dilma seria de 2,3%, igual ao período FHC. Dilma herdou de Lula um investimento como proporção do PIB de 19,5% e dificilmente passará desse patamar. Para quem assumiu e se abriga sob a aura de gestora competente, os resultados não são animadores.
O fato de partidos políticos e presidenciáveis não terem decidido em qual palanque estarão em 2014 sugere que os números da economia podem não ser suficientes para tornar a candidata Dilma tão competitiva como se imaginava.
Diante dessa realidade, Dilma tem duas alternativas. A primeira é a da convicção, redobrando as apostas na amai política. De acordo com alguns assessores e analistas, os efeitos positivos só não se manifestaram ainda porque as doses não foram suficientes. Seria o pior dos mundos.
A segunda é o pragmatismo. Dar uma guinada na política: retomar o tripé macroeconômico, pôr fim à discricionariedade e focar nas reformas para aumentar a competitividade da economia. A dificuldade dessa opção é que a atual é vista como a "política da Dilma". Seria, pois, o reconhecimento de um erro, com inevitáveis custos eleitorais. Restabelecer a confiança dos investidores exige tempo, que talvez não haja mais. É difícil recuperai" a reputação perdida.
Torço pelo pragmatismo e temo pela convicção.
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