Até recentemente, não se pensava em tempo contínuo, em prazos longos na China
Como em todos os países, os chineses celebram o ano que se inicia em 1º de janeiro. Recentemente, nas grandes cidades, há quem comemore o Natal. Não com sentido religioso, mas como uma espécie de dia dos namorados, em que amigos trocam presentes.
A grande festa chinesa é o festival da primavera: o início do ano lunar, mais conhecido como ano novo chinês. É nele que as famílias se reúnem, de forma parecida com a maneira como nós festejamos o Natal: o jantar na noite de véspera, a comunicação obrigatória com os parentes. As crianças ganham envelopes vermelhos com dinheiro. Numa família de classe média, todos os solteiros ganham o seu envelopinho. E, quando os pais vivem modestamente, os filhos empregados dão-lhes também um envelope.
À parte as celebrações, as diferenças no calendário têm algum impacto sobre o comportamento empresarial. Até muito recentemente, a programação dos negócios na China ia de um ano lunar a outro.
Não se pensava em tempo contínuo, em prazos amplos. Só recentemente, os empresários passaram a perceber que o crescimento a taxas elevadas não é garantido.
Por isso, expandiram o horizonte de planejamento. Mas o ano novo lunar ainda é a grande referência para começar e terminar projetos.
Todas as empresas fecham as portas por pelo menos uma semana para festejá-lo. Como também fecham conjuntamente, por uma semana, no festival do meio de outono e na data nacional.
No melhor espírito da cultura local, os líderes anunciados no Congresso do Partido Comunista, em novembro, assumem o governo apenas em março de 2013, depois do ano novo lunar.
Até lá, interpretam-se os sinais que vão sendo dados aqui e ali para estimar o futuro.
O mais expressivo foi o novo chefe do partido, Xi Jinping, ter feito a sua primeira viagem fora de Pequim a Guangzhou, onde a experiência de abertura deslanchou, em 1978. Seu propósito foi homenagear o pai da China moderna, Deng Xiaoping, e reforçar o compromisso com as reformas.
A economia encerra o ano com melhores perspectivas do que começou, fruto do afrouxamento monetário, de investimentos estatais e do aumento do consumo.
A indústria voltou a crescer, a moeda voltou a se apreciar e a inflação está baixa.
Mas a grande pergunta ainda é: qual será o grau de coragem dos novos líderes, ou o nível de entendimento entre as diferentes correntes do partido para redefinir os rumos de um sistema que deu certo, mas cristalizou práticas e interesses que precisam ser mudados?
A melhor resposta até o momento está numa frase do futuro primeiro-ministro, Li Keqiang: se novo governo não levar adiante as reformas, não fará grandes erros, mas pesará sobre ele uma responsabilidade histórica.
Num mundo em que a Europa, os Estados Unidos e tantos outros países estão focados apenas no curto prazo -a renovação das dívidas, o abismo fiscal-, a frase de Li é um sopro de encorajamento.
Mas passar do discurso à prática não será trivial.
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