FOLHA DE SP - 29/12
O Banco Central já provou que estava certo, pelos idos de agosto de 2011, ao desafiar a noção convencional de que os juros reais (descontada a inflação) não poderiam cair abaixo de 5% ou 6% e ao conferir mais peso para a atividade econômica em suas decisões.
Tais sucessos, contudo, parecem ter criado um excesso de confiança na cúpula do BC. Generaliza-se agora, em consequência de seu alinhamento com o desenvolvimentismo simplista do Palácio do Planalto, a convicção de que a autoridade monetária tolerará inflação acima do centro da meta por tempo prolongado.
Além de definir a taxa básica de juros (Selic) e medidas como depósitos compulsórios para bancos, o BC conta com um instrumento fundamental para obter a convergência da inflação em direção à meta de 4,5%: a comunicação.
A forma de divulgar sua estratégia influencia expectativas de consumidores e empresas quanto a níveis de atividade e preços, o que obviamente afeta a inflação real. É evidente a necessidade de transmitir clareza e determinação.
As projeções de inflação do BC, no entanto, têm sido tão desacertadas quanto as do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a respeito do PIB. Previu 5% para 2011, e a taxa ficou em 6,5%. Para 2012 projetou otimistas 4,7%, mas o IPCA deve ir a 5,8%.
No relatório de inflação da semana passada, o exercício se repete: o BC espera 4,8% em 2013, ao passo que analistas privados contam com o mínimo de 5,5%.
Parte dos erros de previsão decorre de eventos pontuais, como altas de preços agrícolas. Mas também persistem os fatores estruturais que tornam o Brasil uma economia mais inflacionária. Como explicar uma taxa sempre dois ou três pontos acima da média global, com a média de crescimento do PIB de apenas 1,8% nos últimos dois anos?
A indexação continua como grande problema. À correção anual do salário mínimo, sempre com ganhos reais relevantes, soma-se a leniência com gastos públicos na Fazenda, que ainda trabalha para desvalorizar o real sem atentar para o impacto nos preços.
A credibilidade do BC foi conquistada a duras penas. Não é seu papel coadjuvar o otimismo pueril do governo, mas deixar claro para todos que não tolerará aventuras inflacionárias -em 2013 ou depois.
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