sábado, dezembro 01, 2012

Lula já não é mais o mesmo - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 01/12


Durante os oito anos no Palácio Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva criou e cultivou a mística de que nada grudava nele. Os escândalos de Waldomiro Diniz, do mensalão ou dos dólares na cueca passaram longe do então presidente — pelo menos nas urnas. O petista foi reeleito e, depois de quatro anos, consagrou a substituta, Dilma Rousseff. Tudo sem graves turbulências ou sustos. Os índices de popularidade do camarada sempre estiveram lá no alto, pois. A oposição durante aquele período se debateu e quase desapareceu, como foi o caso dos ex-pefelistas, isolados pelo Lula-teflon.

Agora — por mais que a força de Lula seja ainda evidente nas decisões da Esplanada —, fora do poder, o ex-presidente parece ter perdido o dom da ingrudabilidade — permita-me o neologismo. Há razões de sobra para isso ocorrer. Uma delas, a mais óbvia, é a saída do cargo da Presidência da República. Até para os plebeus, seria mais do que razoável imaginar a diferença de tratamento. É a velha história do garçom. Antes mesmo do fim do mandato, o café servido vem frio. E não porque alguém mandou, mas simplesmente porque ninguém está mais a fim de bajular o rei que se despede.

O escândalo do mensalão, por mais que tenha passado distante de Lula nos dois mandatos, insistiu em bater à porta do ex-presidente durante os últimos três meses de julgamento no Supremo Tribunal Federal(STF). O petista nunca esteve entre os réus, mas a tentativa de vinculação dele com o esquema foi mais visível. A nova Operação Porto Seguro da Polícia Federal trouxe mais do que nunca Lula para o centro do escândalo, a partir da história da íntima relação com a dona Rosemary Nóvoa de Noronha, a Rose. O silêncio do ex-presidente apenas aumenta o barulho provocado pela investigação.

Como se sabe, Rose, agora ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, dizia que falava em nome do “PR” quando negociava cargos. O “PR”, segundo a Polícia Federal, é Lula. Nas escutas incluídas no relatório da polícia, a toda-poderosa Rose disse que falaria com o então presidente sobre a nomeação de Paulo Vieira para a Diretoria de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA) e do irmão dele, Rubens, para a diretoria de Infraestrutura Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A operação expôs a esculhambação das indicações políticas e o tráfico de influência no pior grau possível.

Pesquisa de votos

Está certo que é impossível saber qual o potencial de Lula com o eleitor, afinal ele está fora do Palácio do Planalto. Não há pesquisa que possa fazer verificar a atual força do petista em relação ao passado presidencial. Os levantamentos que o comparam a Dilma — e a deixam na frente —, por exemplo, servem apenas como uma referência distante de uma eventual possibilidade de Lula brigar por votos daqui a dois anos. Na vida real, tudo pode ser diferente. Ou alguém duvida da capacidade do petista em conquistar votos? Assim, fiquemos apenas a avaliar que atualmente as coisas têm grudado mais em Lula.

O detalhe é que, enquanto Lula já não escapa de aparecer nos escândalos, a presidente Dilma Rousseff parece ter ganhado o teflon do mentor. Nada, desde os escândalos em sete ministérios, conseguiu tirar a popularidade da petista. Ao contrário. Ela apenas ganhou a fama de faxineira, da eficiência administrativa. Agora, com um escândalo que mostrou a fragilidade das agências reguladoras, Dilma passa mais longe dos desgastes. Toda a culpa ficou com o governo anterior, como nas quedas na Esplanada dos indicados por Lula. Mas isso tem causado desconforto dentro do próprio governo.

Não é de hoje a guerra aberta entre lulistas e dilmistas. O fato é que tal batalha apenas aumenta dia a dia, principalmente depois de uma operação como a última da Polícia Federal. Enquanto os dilmistas defendem que a presidente se distancie do mentor político pelo menos por ora, os lulistas — mesmo que de forma injusta — voltam a acreditar na pouca vontade dela em defender o homem. Sobrou para o ministro-chefe da Secretaria da Presidência, Gilberto Carvalho, quebrar o silêncio e apoiar Lula.

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