FOLHA DE SP - 01/12
BRASÍLIA - O técnico da seleção brasileira de futebol, Luiz Felipe Scolari, cometeu um "sincerocídio" nesta semana. Depois de dizer ser uma obrigação ganhar a Copa de 2014, emendou: "Se não quiser pressão, vai trabalhar no Banco do Brasil, senta no escritório e não faz nada".
Neste mundo politicamente correto, houve uma enxurrada de protestos. Felipão cometeu o pecado da generalização. Carimbou todos os funcionários do Banco do Brasil como preguiçosos.
O próprio Felipão telefonou para a direção do BB e pediu desculpas. O banco soltou uma nota se dizendo satisfeito.
Alguma coisa está errada quando alguém não pode vocalizar um sentimento generalizado na sociedade. Basta ir à praça da República, em São Paulo, ou à Cinelândia, no Rio, e perguntar aos pedestres se concordam com o axioma de Felipão (não vale incluir na enquete funcionários do BB). A imensa maioria concordará.
É evidente que há excelentes funcionários no BB. Mas também é inegável a condição privilegiada que eles têm na sociedade. Por exemplo, acesso a aposentadoria quase integral e a um plano de saúde dos sonhos, entre outros benefícios inalcançáveis para milhões de brasileiros.
Um funcionário que ingressa solteiro no BB pagará a vida inteira 3% de seu salário para ter acesso ao plano de saúde do banco, não importando se casar e agregar meia dúzia de filhos ou enteados desfrutando dessa facilidade. É um capitalismo sem risco elevado à máxima potência. Quem paga a conta é o restante da sociedade.
Em vez de apenas se indignar, o Banco do Brasil e seus funcionários deveriam se perguntar: por que tantos brasileiros têm uma visão parecida com a de Felipão? Não é só senso comum e preconceito. Trata-se de uma situação que emula a desigualdade social no país. Muitos se incomodam. E têm razão.
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