FOLHA DE SP - 01/12
RIO DE JANEIRO - Há dias, um prédio foi implodido na rua Frei Caneca, no Estácio, região central do Rio. Era a antiga sede da Bloch Editores, onde, desde 1952, funcionaram a oficina e a Redação das revistas do grupo, entre as quais "Manchete". Em 1970, as revistas se mudaram para a Glória, e Frei Caneca reduziu-se à administração. Em 2000, com a falência e o fim do império Bloch, o prédio foi abandonado e ocupado por famílias sem-teto. Há pouco, estas foram abrigadas pela prefeitura e, no lugar, subirá um shopping.
Trabalhei ali como repórter, pena que por apenas seis meses. De fins de 1967 a meados de 1968, tive o orgulho de ser dirigido por Justino Martins, ir à rua com fotógrafos como Gervasio Batista, Helio Santos e Armando Rozario, e submeter minhas reportagens a redatores como R. Magalhães Jr., Joel Silveira e Narceu de Almeida. Entre os colaboradores da revista estavam Clarice Lispector (como entrevistadora!) e João Saldanha. Os cronistas eram Rubem Braga, Paulo Mendes Campos.
Alguns de meus colegas na reportagem eram os poetas Lêdo Ivo e Homero Homem, o futuro pesquisador de comunicação Muniz Sodré, o fabuloso -já então, sua vida se prestava a fábulas- Carlos Marques (com quem fui morar no Solar da Fossa) e Roberto Muggiati, que seria o sucessor de Justino. Trabalhar com esses nomes compensava a dura convivência com a família Bloch, só possível se você conseguisse se esconder na Redação -o que, para um quase "foca", não era difícil.
Os Bloch não se diziam jornalistas, e com razão. "Manchete" era uma bela revista semanal ilustrada e, apesar deles, informativa e bem escrita. A concorrência das feíssimas semanais de "leitura", sisudas, maçudas e em PB, contribuiu para destruí-la nos anos 80.
Hoje, as ex-revistas de "leitura" se tornaram um picadinho colorido. E continuam feias.
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