FOLHA DE SP - 28/12
SÃO PAULO - O Brasil, como se sabe, coleciona muitas normas estúpidas, mas nenhuma, a meu ver, supera o instituto da meia-entrada para estudantes. O caso é emblemático porque transborda de erros desde a concepção até a execução.
Para começar, a meia-entrada suprime os mecanismos do livre mercado numa das áreas, o lazer, onde funcionam bem, sem necessitar de nenhuma ingerência estatal, além das inspeções do Corpo de Bombeiros. Empresários do setor têm todo interesse em manter as casas cheias, para o que o fator preço é determinante.
No nível pedagógico, a meia irradia ilusões nefastas. Ela dá a impressão de que basta aprovar uma lei para criar direitos. É claro que não é assim. Para fechar as contas, os empresários aumentam o valor da entrada inteira -e, por tabela, o da meia. O saldo líquido é que fica mais difícil calcular custos (nunca se sabe qual porcentagem de meias será vendida) e o cidadão que não é estudante nem idoso (a meia foi estendida para esse grupo) paga um preço extorsivo.
Ainda que fosse desejável distribuir subsídios na área de lazer, a meia estudantil é um jeito burro de fazê-lo. O grupo proporcionalmente mais beneficiado é dos filhos da classe média alta, que vai com mais frequência a espetáculos, e que poderia perfeitamente prescindir do mimo.
Para completar o festival de bizarrices, as meias foram implementadas de forma tal que compraram a docilidade do movimento estudantil para o governo. Como em muitas praças cabe à UNE, às UEEs e assemelhados emitir as carteirinhas (que embutem uma boa mais-valia), elas se tornaram o ganha-pão dessas entidades.
E é claro que as coisas podem piorar. Parlamentares gostaram tanto de fazer caridade com bolsos alheios que, depois dos estudantes e dos idosos, ameaçam agora conceder meia-entrada para todos os jovens até 29 anos. Só pagariam inteira os pobres mortais na faixa dos 30 aos 59, uma fatia de apenas 18,5% da população.
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