Há pouco mais de quatro anos, num texto intitulado "No limiar do século 21", o sociólogo Hélio Jaguaribe ressaltava que, depois da universalização do Ensino Fundamental, o desafio do país nessa área passava a ser o de garantir uma melhora significativa na qualidade da educação de base. Simultaneamente, ficava comprometido a aumentar também o nível e o acesso ao Ensino Médio. Em plena segunda década do novo século, há avanços discretos em relação a esses aspectos. O país, porém, mantém-se preso a padrões de ensino típicos do século 19 e segue sem conhecer as competências necessárias para um mercado de trabalho no qual o que conta é o conhecimento. Pior: além de reduzida, a média de anos de estudo dos brasileiros, de maneira geral, está associada a ensino de qualidade duvidosa, o que ajuda em muito a explicar os baixos índices de produtividade dos trabalhadores brasileiros e a insatisfação acentuada com os ganhos salariais. Essas, provavelmente, são as questões mais desafiadoras para um país que pretende expandir sua economia e figurar no ranking dos mais competitivos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão uma ideia clara da distância que ainda separa o Brasil de países adiantados. O mais preocupante deles é a média de apenas 7,3 anos de estudos, indicando que uma parcela expressiva da população brasileira não tem sequer o Ensino Fundamental completo. Entre os brasileiros que já estão no mercado de trabalho, apenas 46,8% cursaram o Ensino Médio e uma parcela muito menor _ 12,5% _ o Ensino Superior completo. Mesmo entre esses cidadãos privilegiados com um período mais longo de presença em sala de aula, a situação não é das mais favoráveis. O número reduzido de quem frequenta a pré-escola e a falta de qualidade do ensino de maneira geral fazem com que apenas um pequeno percentual, já na fase adulta, lide bem com as quatro operações no dia a dia e consiga interpretar um simples texto. Como imaginar o país em condições de competir com os que apostaram no conhecimento, numa situação dessas?
O Brasil deveria levar mais em conta os alertas de especialistas de que a pouca atenção ao ensino está na origem de crises econômicas como a registrada hoje em âmbito internacional ou de dificuldades de aproveitar o seu potencial para se desenvolver. Ruim para o país, o descaso com o ensino é péssimo para a população, pois há uma relação evidente entre tempo de estudo e desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Um ano a mais de aprendizado já é suficiente para ampliar em 15% a renda de um profissional. No caso de quem tem Ensino Superior completo, o impacto é estimado em 47%. Em consequência, a diferença em relação ao ganho de quem tem apenas Ensino Médio para quem foi além nos estudos alcança 167%, fator de peso para justificar a importância de um curso superior.
Os avanços do terceiro grau, principalmente depois da implantação de avaliações regulares, contrastam com os dos demais níveis de ensino. A universidade evoluiu, a ponto de algumas instituições brasileiras serem reconhecidas internacionalmente. Os universitários, como bem lembrou a presidente Dilma Rousseff na sua mensagem de final de ano aos brasileiros, vêm sendo contemplados com programas como o ProUni, que concede bolsas para graduação, e o Ciência Sem Fronteiras, que já enviou 20 mil alunos para estudar no Exterior. Apesar da universalização, porém, o ensino básico se fragilizou de maneira preocupante. Uma das razões pode estar no fato de receber bem menos recursos do que o Ensino Superior, com repercussões também sobre os ganhos e a motivação dos professores.
O país subestimou o fato de que a educação básica, para a qual o sociólogo Hélio Jaguaribe defende mais qualidade, é decisiva para o aprendizado e para a formação de profissionais em todas as áreas. Há omissões comprovadas da União, dos Estados e dos municípios, que transferem responsabilidades uns aos outros quando o assunto é educação. O efeito danoso disso tudo, que precisa ser atacado, é claro: crianças e adolescentes sem a total compreensão do que estudam e, mais adiante, profissionais com formação deficiente, incapazes de se realizar pessoalmente, de conquistar boa parcela das vagas oferecidas pelo mercado e de contribuir para um país mais próspero e mais justo.
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