CORREIO BRAZILIENSE - 23/12
A última semana transformou a candidatura de Henrique Eduardo Alves a presidente da Câmara numa prova de hipismo, repleta de cancelas, cavaletes e muros. Esse será o primeiro grande embate político de 2013, junto com a disputa pela vaga de líder do PMDB na Casa
A última semana de funcionamento do Congresso Nacional serviu para armar as cancelas que farão parte da primeira prova política de 2013: a Presidência da Câmara dos Deputados. E, quem se lançou primeiro e tem o apoio institucional do partido é quem mais terá dificuldade com a altura dos obstáculos, leia-se, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN).
Como numa pista de hipismo, os obstáculos estão espalhados, uns mais fáceis, outros desafiadores. O primeiro foi colocado por ele mesmo. A não se posicionar logo no primeiro dia sobre a decisão de Luiz Fux a respeito da obediência à fila dos vetos, Henrique Alves deixou em muitos de seus colegas a impressão de que não defenderia o Legislativo de tudo e de todos. E os deputados querem na Presidência da Câmara alguém que os defenda.
O segundo cavalete que Henrique colocou na pista foi o fato de não defender de pronto que caberia à Câmara cassar os mandatos dos deputados enrolados no Supremo Tribunal Federal. O PR do deputado Valdemar Costa Neto, um dos réus no processo, não gostou. Dentro do partido, se fala inclusive na candidatura do deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF) a presidente da Casa, contra o PMDB.
O terceiro obstáculo foi construído com tijolos pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). De olho nos votos do PSDB para presidente do Senado, Renan ajudou a derrotar o relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG), na CPI que investigou os negócios suspeitos do empresário Carlos Cachoeira e seus tentáculos no poder público. Assim, Renan ajudou a evitar que se cumprisse um pedido do PT, de indiciar o governador de Goiás, Marconi Perillo.
Para completar, o relatório vencedor foi o de Luiz Pitiman, deputado do PMDB do Distrito Federal, e ligado à cúpula do partido. O parecer de Pitiman apenas remeteu tudo o que foi apurado na Comissão Parlamentar de Inquérito para o Ministério Público. Ou seja, mais um peemedebista contra o relator. Sendo assim, como o PMDB não lhe apoiou, Odair Cunha também não se sente mais na obrigação de apoiar o PMDB. Ou seja, é considerado um voto que Henrique Alves não terá.
Outro obstáculo forte é o próprio PMDB. A disputa acirrada pela vaga de líder do partido na Câmara virou uma guerra e envolve nomes como o de Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro e o de Sandro Mabel, de Goiás. Cunha é polêmico, brigou para ser relator do Código de Processo Civil e esperava o apoio de Henrique para ocupar a vaga de líder. Mas esse apoio não veio. Mabel está há pouco tempo no PMDB. Quando era do PL, passou por um período difícil quando foi acusado de envolvimento no escândalo do mensalão, mas foi absolvido no Conselho de Ética da Casa por unanimidade. Terminou fora do partido num embate com Valdemar Costa Neto. Por conta desses percalços, sua candidatura é vista com reservas por setores do PMDB. Há quem receie que Mabel cuidará mais de si próprio do que da bancada. Hoje, há quem diga que os dois irão ao segundo turno e, nesse caso, o perdedor dificilmente jogará fechado com Henrique Alves.
O quinto obstáculo está no PT. O fato de o grupo ligado ao ex-ministro José Dirceu estar em franco movimento para ocupar todos os espaços provoca insatisfações em outros pólos, como o do presidente da Casa, Marco Maia. Por isso, não está descartada uma sangria de votos petistas, especialmente numa votação secreta.
Para completar, o período Legislativo terminou com a apresentação de duas candidaturas a presidente da Câmara., A deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) anunciou na última sexta-feira que será candidata. Na quinta-feira, foi a vez do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) ter seu nome oficializado pela bancada, com logomarca e tudo mais. Em carta enviada pela bancada do partido.
Enquanto isso, no QG de Henrique Alves…
Uma das formas que o líder do PMDB tem de tentar neutralizar Júlio Delgado é colocando a candidatura do socialista como uma manobra do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para medir sua força congressual rumo a uma carreira solo em 2014 contra Dilma Rousseff. Nesse caso, o PT se reaglutina em torno do nome do PMDB. Não por acaso, Eduardo Campos não se manifestou sobre a candidatura de Júlio. Não quer colar as pretensões da bancada ao seu nome. Ocorre que, como diz o ditado, quem cala, consente. E agora, candidatura posta. Ninguém retira. Ou seja, 2013 vem fervendo com a disputa pela presidência com ares de final de campeonato de saltos. Que vença o melhor.
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