FOLHA DE SP - 23/12
Nosso passado de baixa renda per capita e grande desigualdade deixou marcas profundas em nossa psique. Um exemplo é a preocupação com nossa crescente produção de commodities e o espaço que elas ocupam nas exportações e no PIB, que, nessa visão, poderia levar o país a ser mero exportador de produtos básicos.
Alguns vão ainda mais longe e acusam a produção desses produtos minerais e agropecuários de ameaçar a produção industrial mais sofisticada.
O problema dessa visão das commodities como impedimento à industrialização é que ela é desmentida pelos fatos.
Países avançados e de alta renda são grandes exportadores de produtos básicos, como Canadá, Austrália, EUA, Nova Zelândia e Noruega.
São países que fazem uso inteligente dos recursos gerados pelas commodities e que sempre viram essa capacidade como uma vantagem competitiva, e não um problema.
Nesse sentido, o Brasil ocupa posição privilegiada. Nossa produção de commodities é altamente diversificada e espalhada pelo país. Se fôssemos exportadores só de um ou dois produtos por meio de poucos produtores, seria diferente. Não é o caso.
O Brasil é grande exportador de grãos (como soja, milho e café) e de proteína animal. Eles são produzidos por todo o território nacional e empregam enorme contingente de pessoas.
Essa produção é conduzida e gerenciada por número impressionante de empresários pequenos, médios e grandes, que formam uma indústria das mais dinâmicas do mundo e altamente competitiva, com ganhos de produtividade que são exemplo mundial nos últimos 20 anos.
Esse é um ativo fundamental e estratégico do Brasil. Nesta crise econômica global, o consumo de alimentos foi dos setores que menos sofreu. As pessoas podem rever a compra do carro, da casa ou do computador, mas não os seus hábitos alimentares básicos atendidos pela exportação brasileira.
Nossa produção mineral também cresce, o pré-sal já gera empregos na produção de máquinas e equipamentos para sua exploração, e o gás pode ser a nova fronteira.
É importante, portanto, que o Brasil siga gerando riquezas e moeda forte por meio da exportação cada vez maior de commodities. E é fundamental que, ao mesmo tempo, se restaure a competitividade da indústria com desonerações tributárias abrangentes, treinamento de mão de obra, modernização de processos e investimento em infraestrutura, tecnologia, máquinas e equipamentos.
A força das commodities não enfraquece a indústria nacional. Muito pelo contrário. A ideia de usar os recursos do pré-sal na educação de nossa mão de obra deixa isso claro.
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